Não sou muito adepto desse
ditado, pois já vi cometerem injustiças com base nele. No entanto, dependendo
do tamanho e do impacto da gangue, podemos extrair muito da personalidade do
sujeito. E como nessa campanha muitos estão sendo enganados por premissas
erradas como a fórmula mágica (inexistente e impossível) de transformar a
economia brasileira na da Suécia e de que o PSDB é avesso à corrupção e vai
exterminá-la, penso ser útil (e imperioso) que se apontem alguns fatos da “galera”
do Aécio. Fui criticado por criticar o guru FHC, por “desconstruir” Aécio, mas
quem sabe possa falar da turma dele... Agradeço muitas das lembranças a um
texto do professor de ciência política da UFMG Juarez Guimarães.
O
PSDB posar de bastião da ética e do respeito à coisa pública e Aécio de
paladino da moralidade soa como a Gretchen querer posar de virgem ou a Al Qaeda
de pacifista. Logo ele, que, ao mesmo tempo em que fazia faculdade no Rio de
Janeiro, ocupava o cargo de assessor parlamentar (do pai!) em Brasília. Haja
ubiquidade! Para somar, é bom lembrar que o partido foi o que mais teve
candidaturas impugnadas com base na lei da ficha limpa nas últimas eleições
municipais, 57. É muita coisa e expõe como a sigla lida com a questão: a nossa
pode, a deles não. Antecipo que não eximo membros do governo atual de culpa na
corrupção (acho que devem mesmo ser punidos exemplarmente) nem sou ingênuo ao
ponto de achar que ela não existe. Mas não é com Aécio que ela vai acabar, sem
dúvida.
Quase
todo mundo sabe, de maneira enviesada e pouco explicada pela mídia, que o
mensalão do PT tem como pai o mensalão instituído em Minas Gerais, operado pelo
mesmo Marcos Valério e tendo como capitão político o então governador Eduardo
Azeredo, que renunciou ao mandato de Deputado Federal para não ter de responder
sobre isso perante o STF. Muita honradez... Azeredo é íntimo de Aécio não só na
política, engrossando as fileiras de seu palanque no estado, como na vida
privada, tanto é que o candidato a presidente é padrinho de casamento de seu
filho.
Ainda
em Minas podemos buscar a nobre figura do ex-vice governador no primeiro
mandato de Aécio, Clésio Andrade. Esse senhor, que foi sócio de Marcos Valério,
também renunciou ao mandato de senador para escapar do julgamento no Supremo.
Andrade, no entanto, recebeu, dentre outros, um belo presente do amigo Aécio:
sua mulher Adriene Andrade foi indicada para o Tribunal de Contas do estado, a
despeito de sua baixa experiência e dos protetos. Foi premiado pela pupila
(aparelhamento?) com o seu parecer favorável às contas do governo do estado exatamente
na época em que o marido e o amigo compunham o executivo.
Aécio
é mesmo um cara legal. Seu amigo Zezé Perrela, que de um nada político se
elegeu senador e ao filho deputado estadual, teve um helicóptero apreendido com
quase quinhentos quilos de cocaína. E o que aconteceu? Nada. Nem os pilotos,
que foram obrigados a assumir a posse da droga, estão presos. É notória a
associação que se faz do presidenciável ao uso desse entorpecente, inclusive.
Outro
“parça” do senador mineiro, o também tucano Carlos Mosconi, derrotado nas urnas
no último pleito, mas favorito a um bom cargo caso o “brother” se eleja,
responde pelo que se denominou “máfia dos transplantes”, no sul de Minas
Gerais. Alguns médicos envolvidos já foram presos. Ou ainda o ex-procurador
geral de justiça do estado, Alceu José Torres, sempre compreensivo com as
denúncias contra Aécio, vetando os pedidos de investigação, foi agraciado com a
secretaria de meio ambiente do governo Anastasia.
Vale lembrar
também que outros governos estaduais do PSDB possuem igualmente um vasto
repertório de corrupção e/ou de desrespeito à coisa pública. Marconi Perillo,
de Goiás, tinha na sua chefe de gabinete o elo com o bicheiro Carlinhos
Cachoeira, que gozava de incomensurável influência naquele estado. Sem falar no
senador cassado Demóstenes Torres, também de lá, filiado ao DEM, aliado de
primeira hora dos tucanos. Há também a ex-governadora tucana do Rio Grande do
Sul, Yeda Crusius, com os milionários desvios do Detran gaúcho e as famosas
sobras de campanha.
Podemos
também citar o inquestionável e insuspeito Geraldo Alckmin, que teria de
explicar a continuidade, em seu governo, do bilionário esquema de desvios de
dinheiro do metrô paulistano e as denúncias (comprovadas) de pagamento de
propinas pela Alston e pela Siemens. Em São Paulo, felizmente, o tucanato conta
com o auxílio luxuoso do conselheiro do TCE Robson Marinho (indicado por eles)
e suas gordas e lícitas contas na Suiça. Torno a perguntar: aparelhamento? Não,
aparelhamento são as nomeações dos adversários...
E
chegamos ao grande líder, Fernando Henrique. O PSDB não recorda, pelo visto,
que um de seus primeiros atos como presidente, foi a extinção da ‘Comissão para
Investigação da Corrupção’, criada por Itamar. E que em seu império a Polícia
Federal, responsável pelas investigações de crimes dessa natureza, tenha
realizado o expressivo número de quarenta e oito operações. Incrível... E ainda
a consagrada atuação de seu procurador-geral da república Geraldo Brindeiro, o
famoso “engavetador” que, além do processo de apuração da compra de votos para
a reeleição, engavetou 242 dos 626 inquéritos que recebeu, arquivando, ainda,
outros 217. Ademais, Paulo Roberto Costa, o heroi da campanha de Aécio, começou
a trabalhar na Petrobrás em 1995, época do governo FHC.
É
no mínimo suspeito um tucano, portanto, insistir no mantra do combate à
corrupção, já que eles mesmos a praticam e a toleram, notoriamente e de forma
corriqueira. A falta de propostas concretas, factíveis, justas e o cinismo com
que tentam convencer de que é possível o Brasil se transformar na Suécia já
expõem bem a forma com que tratam a ética e a moralidade pública. Talvez eles
também se valham de Nelson Rodrigues, que afirmou que “não se faz literatura,
política e futebol com bons sentimentos.”