terça-feira, 14 de outubro de 2014

DIGA-ME COM QUEM ANDAS...



                   Não sou muito adepto desse ditado, pois já vi cometerem injustiças com base nele. No entanto, dependendo do tamanho e do impacto da gangue, podemos extrair muito da personalidade do sujeito. E como nessa campanha muitos estão sendo enganados por premissas erradas como a fórmula mágica (inexistente e impossível) de transformar a economia brasileira na da Suécia e de que o PSDB é avesso à corrupção e vai exterminá-la, penso ser útil (e imperioso) que se apontem alguns fatos da “galera” do Aécio. Fui criticado por criticar o guru FHC, por “desconstruir” Aécio, mas quem sabe possa falar da turma dele... Agradeço muitas das lembranças a um texto do professor de ciência política da UFMG Juarez Guimarães.
                O PSDB posar de bastião da ética e do respeito à coisa pública e Aécio de paladino da moralidade soa como a Gretchen querer posar de virgem ou a Al Qaeda de pacifista. Logo ele, que, ao mesmo tempo em que fazia faculdade no Rio de Janeiro, ocupava o cargo de assessor parlamentar (do pai!) em Brasília. Haja ubiquidade! Para somar, é bom lembrar que o partido foi o que mais teve candidaturas impugnadas com base na lei da ficha limpa nas últimas eleições municipais, 57. É muita coisa e expõe como a sigla lida com a questão: a nossa pode, a deles não. Antecipo que não eximo membros do governo atual de culpa na corrupção (acho que devem mesmo ser punidos exemplarmente) nem sou ingênuo ao ponto de achar que ela não existe. Mas não é com Aécio que ela vai acabar, sem dúvida.
                Quase todo mundo sabe, de maneira enviesada e pouco explicada pela mídia, que o mensalão do PT tem como pai o mensalão instituído em Minas Gerais, operado pelo mesmo Marcos Valério e tendo como capitão político o então governador Eduardo Azeredo, que renunciou ao mandato de Deputado Federal para não ter de responder sobre isso perante o STF. Muita honradez... Azeredo é íntimo de Aécio não só na política, engrossando as fileiras de seu palanque no estado, como na vida privada, tanto é que o candidato a presidente é padrinho de casamento de seu filho.
                Ainda em Minas podemos buscar a nobre figura do ex-vice governador no primeiro mandato de Aécio, Clésio Andrade. Esse senhor, que foi sócio de Marcos Valério, também renunciou ao mandato de senador para escapar do julgamento no Supremo. Andrade, no entanto, recebeu, dentre outros, um belo presente do amigo Aécio: sua mulher Adriene Andrade foi indicada para o Tribunal de Contas do estado, a despeito de sua baixa experiência e dos protetos. Foi premiado pela pupila (aparelhamento?) com o seu parecer favorável às contas do governo do estado exatamente na época em que o marido e o amigo compunham o executivo.
                Aécio é mesmo um cara legal. Seu amigo Zezé Perrela, que de um nada político se elegeu senador e ao filho deputado estadual, teve um helicóptero apreendido com quase quinhentos quilos de cocaína. E o que aconteceu? Nada. Nem os pilotos, que foram obrigados a assumir a posse da droga, estão presos. É notória a associação que se faz do presidenciável ao uso desse entorpecente, inclusive.
                Outro “parça” do senador mineiro, o também tucano Carlos Mosconi, derrotado nas urnas no último pleito, mas favorito a um bom cargo caso o “brother” se eleja, responde pelo que se denominou “máfia dos transplantes”, no sul de Minas Gerais. Alguns médicos envolvidos já foram presos. Ou ainda o ex-procurador geral de justiça do estado, Alceu José Torres, sempre compreensivo com as denúncias contra Aécio, vetando os pedidos de investigação, foi agraciado com a secretaria de meio ambiente do governo Anastasia.
Vale lembrar também que outros governos estaduais do PSDB possuem igualmente um vasto repertório de corrupção e/ou de desrespeito à coisa pública. Marconi Perillo, de Goiás, tinha na sua chefe de gabinete o elo com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, que gozava de incomensurável influência naquele estado. Sem falar no senador cassado Demóstenes Torres, também de lá, filiado ao DEM, aliado de primeira hora dos tucanos. Há também a ex-governadora tucana do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, com os milionários desvios do Detran gaúcho e as famosas sobras de campanha.
                Podemos também citar o inquestionável e insuspeito Geraldo Alckmin, que teria de explicar a continuidade, em seu governo, do bilionário esquema de desvios de dinheiro do metrô paulistano e as denúncias (comprovadas) de pagamento de propinas pela Alston e pela Siemens. Em São Paulo, felizmente, o tucanato conta com o auxílio luxuoso do conselheiro do TCE Robson Marinho (indicado por eles) e suas gordas e lícitas contas na Suiça. Torno a perguntar: aparelhamento? Não, aparelhamento são as nomeações dos adversários...
                E chegamos ao grande líder, Fernando Henrique. O PSDB não recorda, pelo visto, que um de seus primeiros atos como presidente, foi a extinção da ‘Comissão para Investigação da Corrupção’, criada por Itamar. E que em seu império a Polícia Federal, responsável pelas investigações de crimes dessa natureza, tenha realizado o expressivo número de quarenta e oito operações. Incrível... E ainda a consagrada atuação de seu procurador-geral da república Geraldo Brindeiro, o famoso “engavetador” que, além do processo de apuração da compra de votos para a reeleição, engavetou 242 dos 626 inquéritos que recebeu, arquivando, ainda, outros 217. Ademais, Paulo Roberto Costa, o heroi da campanha de Aécio, começou a trabalhar na Petrobrás em 1995, época do governo FHC. 
                É no mínimo suspeito um tucano, portanto, insistir no mantra do combate à corrupção, já que eles mesmos a praticam e a toleram, notoriamente e de forma corriqueira. A falta de propostas concretas, factíveis, justas e o cinismo com que tentam convencer de que é possível o Brasil se transformar na Suécia já expõem bem a forma com que tratam a ética e a moralidade pública. Talvez eles também se valham de Nelson Rodrigues, que afirmou que “não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.”

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