sexta-feira, 12 de setembro de 2014

MARINA? NÃO, NÃO!

             Não preciso de motivos para não votar em Marina Silva uma vez que já tenho candidata. Mas, mesmo assim, posso apresentar vários. Nem o maior dos fatalistas poderia imaginar a trágica morte de Eduardo Campos no momento em que a campanha (real) começava. Nem tampouco a gigantesca comoção que tal fato causou no eleitorado brasileiro, catapultando Marina a um imprevisível empate com Dilma já no primeiro turno. Peças que o destino prega. Não é o primeiro jogo de dados dessa natureza. Jânio e Collor também se alçaram pelo acaso. E sabemos no que deram.
                Imponderável à parte, Marina assumiu a cabeça da chapa e impõe, despoticamente, como é do seu feito, seu confuso programa de governo e suas ideias pessoais, mesmo que no projeto não se incluam e, ao cabo, cortou alianças costuradas por Campos com a frieza de um predador feroz. A candidez e a imagem simples que tenta passar não combinam tanto com a Marina dos bastidores, impositiva, intransigente e, às vezes, fundamentalista. É bom que se adiante que Marina Silva não é o José Mujica (presidente do Uruguai) à brasileira. No entanto, o brasileiro não está acostumado a se aprofundar nos assuntos que mais deveriam lhe interessar. Prefere absorver a indignação seletiva e a beatificação oportunista promovidas convenientemente pela mídia conservadora.
                A imagem de santa de Marina não convence. Seu jeitão de “pobrezinha” é artificial. Ela encheu as burras de dinheiro nos últimos anos proferindo palestras pelo país. Mais de um milhão e meio de reais! Um ervanário invejável, bancado por quem? Marina não revela. Triste, pois abre espaço às piores elucubrações. Dentre os “clientes” comprovados está o Credit Suisse e o Banco Itaú. Não há nada errado em se fazer palestras e em cobrar por elas. Só muda se quem estiver pagando forem potenciais interessados em um mandato futuro. Diga-me se andas com banqueiros que te direi quem és.
                O Brasil não é um paraíso fiscal, Meca dos sonegadores internaconais, mas é um paraíso bancário, porto seguro e feliz das instituições financeiras estranguladoras de “clientes” e dos rentistas. Em poucos lugares do mundo os bancos lucram tanto como aqui e recebem pagamentos tão generosos de dívida pública como aqui (duzentos bilhões de reais por ano!!!). Nossos juros são os maiores do mundo. Nada melhor, pra eles, lógico. Diante desse quadro, seria imperiosa uma revisão desta desproporção lucrativa e de seu rastro avassalador. Ocorre que a coordenadora da campanha de Marina Silva é banqueira...
                E não só isso. Neca Setúbal, como é conhecida a herdeira do banco Itaú, responsável também pela área econômica do programa de governo, deveria responder por um papagaio tributário da ordem de 18 bilhões de reais (quase uma Copa) resultado do calote que a união sofreu quando da compra do Unibanco pelo banco da família de Neca. Ela ainda não disse palavra sobre isso. Se a “pergunta do milhão” da TV já é sedutora, imagine a de 18 bilhões. Aguardemos, alijados da verdade, como sempre. Mas quando o assunto é autonomia do Banco Central ela é a primeira a defender (e a confirmar) a ideia. Muito conveniente.
                Marina significa o retorno ao neoliberalismo (Estado mínimo, câmbio flexível, juros ao sabor do mercado etc), aquilo que há de pior e de mais nefasto na política econômica. Para os pobres, bem entendido. Para os ricos rentistas é, como já dito, o paraíso. O que impulsiona a economia sonhada por seus pares é a desigualdade. Mais um ponto pros ricos, cada vez mais ricos. Adeus, justiça social, definitivamente. Não custa lembrar que o Brasil demorou séculos para se preocupar efetivamente com os pobres e, sobretudo, os miseráveis. Acho que não colou... Não dá pra imaginar que Marina seja tão ingênua a ponto de supor que ao entregar o país ao mercado ele será bonzinho. Retrocesso social é proibido constitucionalmente. Deveria ser também moralmente...
                Marina diz que não transige em assuntos ambientais ou de doações à campanha por empresas que ela considera “do mal”. No entanto, quando o tema é religioso, ela parece sucumbir. Foi assim no lamentável episódio envolvendo o destemperado fundamentalista evangélico Silas Malafaia (difícil adjetivar esse senhor). Positivamente então, acho que não consigo. Mas ele mostrou seu insidioso poder e dobrou a candidata em poucos tweets. Foi só esbravejar na internet quanto ao conteúdo do programa dela em termos de direitos dos homossexuais que Marina arrefeceu e mandou alterar tudo. Silas é teocrata, o que já revela seu perigo. Marina seguiu sua cartilha.
                O ambientalismo tão apregoado por Marina também soçobrará inegavelmente diante de seu projeto econômico. Qualquer estudante do ensino médio com o mínimo de noção sobre ecologia sabe que não fecha a equação do desenvolvimento sustentável e da postura política neoliberal exploratória e predatória. Ela prometeu uma “ressignificação” desses conceitos. Não explicou o neologismo nem muito menos a fórmula mágica. Eduardo Gianetti e André Lara Resende serão os Malafaia econômicos do ambientalismo de Marina. Se assumir a presidência, mudará o discurso em poucos meses.
                Marina pesa a mão se valendo da responsabilidade da presidenta no episódio da Petrobras após uma delação premiada, mas pede que não se “mate” novamente Eduardo Campos, relacionado na lista de suposto beneficiários de propina. A candidata precisa  calibrar sua opinião sobre esse ( e outros) assuntos dos quais não é possível se analisar com dois pesos e duas medidas. Sobram indecisão e incoerência.
                Ademais, Marina já está sendo enredada pelas malignas teias de Fernando Henrique Cardoso, o político mais cínico da história do Brasil e jihadista declarado contra o Lulo-petismo. Um dos “intelectuais” dessa gangue, Diogo Mainardi, já acenou que “é Marina, mas só até a posse, mostrando claramente a intenção deles. O ex-presidente já deixou Aécio à míngua, bandeando para o lado da candidata do PSB. Visa ao poder a qualquer custo na guerra que decidiu travar. Que se danem os aliados.

                Haja boa companhia, como se já não bastassem Jorge Bornhausen e Heráclito Fortes. Marina seduziu os grão tucanos por que é a cara deles. Só falta agora o Lobão, ícone da “genialidade” das redes sociais. Não há nem haverá “nova política” com Marina Silva. Seu programa de governo, além de obsoleto, é vago e contraditório. É impossível “governar com todos” conforme ela presume e propala. Será o retorno do tucanato e do nefando neoliberalismo, dessa vez disfarçado na cândida imagem de uma presidenta com jeito de santa e pecha de novidade. Nada mais conveniente.

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