Andou pegando mal, por um tempo, alguém
dizer que era “de direita”. O país passou por uma redemocratização e vem
passando por conquistas sociais históricas e indiscutíveis. Criticar era provar
ou que não entendia nada de política ou que era insensível. Com a eleição
presidencial de 2014 todos os escrúpulos e pudores se foram e os arroubos
“direitistas” espocam por todo canto, sob o manto da “mudança” e da “liberdade
de expressão”. Mesmo que nem se saiba pra onde se quer ir, como muitos. Mas o
que vale agora é disputar o campeonato de truculência, de absurdos e de
semi-nazismo. Um verdadeiro terceiro turno. Chegam a zurrar pela volta dos
militares ao poder. (pausa para risos. Pedir a volta da ditadura em um protesto
de rua talvez seja o cúmulo do contrassenso). Julgam-se legitimados para todo
tipo de ataque inconsequente, ignóbil e abjeto. Será esse o legado da decantada
“festa da democracia”?
Dessa
vez chegou muito perto dos senhores da casa grande voltarem a ocupá-la. E,
segundo eles, com a chancela de metade do país. São ruins até de matemática,
mas agora não vem ao caso. Tal proximidade, unilateralmente, os legitimou para
duvidar de tudo e a voltar a impor seu estilo. E sempre com graúdos por detrás.
Nunca souberam perder, mas dessa vez extrapolaram. Começaram o golpe pela
mídia, como sempre. Antes mesmo da votação. E de forma vergonhosa. Golpismo do
mais rasteiro possível. E o risco de ditadura está no PT... O que a Veja tentou
criar não se vê em nenhum outro lugar. Por menos, já se fecharam jornais na
Inglaterra, como o News of the World. Paulo Francis enfartou na década de 90
porque afirmou, nos Estados Unidos, que diretores da Petrobras (sempre ela)
tinham contas no exterior. Liberdade de imprensa? Sim, mas com
responsabilidade. A séria justiça estadunidense fez o óbvio: pediu provas. Ele
não as tinha. Fosse por aqui estaria “protegido”.
A
desfaçatez de uma revista que se diz séria (pausa para gargalhadas) quase pôs
em risco o verdadeiro processo democrático. Mas e daí, né? O que interessava era
a vitória. A qualquer custo. Mas não veio. E agora? Vamos à democratização da
mídia, ora! “Mas isso é censura!”, bradam justamente os que detém o seu
controle. Democratizar não é regular. Serve, inclusive, para se evitar
escândalos jornalísticos como esse da Veja. E também para cumprir a
Constituição da República, pois não. Poucos sabem, mas dispõe o artigo 220 parágrafo
quinto da nossa Carta Magna que “Os
meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto
de monopólio ou oligopólio.” Não é o que ocorre na prática.
Não
passam de dez as famílias que controlam a mídia brasileira. Isso é oligopólio.
E de alto risco. Defender a liberdade de imprensa não é nenhuma descoberta da
pólvora. É o óbvio. O próprio artigo citado acima proíbe a censura prévia,
saibam. Só não podemos nos curvar à liberdade de pensamento de uma meia dúzia.
Não há liberdade de imprensa no Brasil que não seja aquela que se coaduna com o
que pensam os donos de emissoras de TV e de jornais. E isso está longe de ser
liberdade. A democratização serve pra isso. Simples. Mas tem parecido difícil
de entender. Mas é claro, os interessados na manutenção do estado de coisas
atual nublam qualquer debate lúcido e, de antemão, impõem que isso é ditadura,
é censura. E quem os lê, acredita. Enquanto a “sabedoria” desse pessoal vier de
Constantinos, Azevedos, Mervais, Mainardis, Jabores e “meninas do Jô”, as
coisas irão mal...
Os
gastos públicos com a mídia têm de ser revistos urgentemente. Não cabe mais,
para exemplificar, o ervanário de seiscentos milhões de reais por ano para a
cada vez combalida audiência da Rede Globo. Só serve mesmo para sustentar esses
babacas. O dinheiro público não pode financiar uma suposta liberdade de
imprensa de grandes (e poucos) grupos que, ainda por cima, se traveste dessa
“liberdade” para ferir de morte ditames constitucionais e a própria democracia.
E tudo de maneira descarada e, pior, impune. Vale a pena, ressalto, conhecer o
sistema de co-regulação utilizado na Dinamarca.
O
novo golpe, agora pós votação e vitória legítima e incontestável de Dilma, vem
com a “dúvida” sobre a lisura no processo eleitoral e na confiabilidade da urna
eletrônica. Façam-me o favor, senhores! Por que não duvidaram antes? Ou melhor:
por que não duvidaram no primeiro turno, quando seu candidato experimentou uma
virada espetacular e imprevisível? Ou somente as urnas do primeiro turno eram
confiáveis? O lamentável expediente tem causado indignação no Tribunal Superior
Eleitoral, condutor do processo que, diga-se, é elogiado mundo afora. Outra
tacada na água dos chorosos derrotados.
Nada,
a bem da verdade e da democracia, tem dado certo, felizmente. Decidiram tentar
de outro modo. As notáveis manifestações de junho de 2013 mostraram o poder de
mobilização do povo brasileiro quando pleiteiam causas justas e reais. Tentaram
se valer disso para uma manifestação por um insustentável e risível impeachment
da presidente ainda nem reempossada. Quase ninguém aderiu e mais esse delírio. Em
São Paulo, maior cidade da América Latina, não chegaram a mil os
gatos-pingados. Passeatas por causas factíveis, como a marcha da maconha, por
exemplo, reúnem dez vezes mais.
Ao
cabo, é bom lembrar a esse pessoal algumas coisas: um: a eleição acabou. E
vocês perderam. Dois: Não foi por isso que o Brasil se “dividiu”. O Brasil
sempre foi dividido. Isso só se escancarou agora por que muitos direitistas
saíram do armário. Três: para que alguém seja condenado, é imperiosa a condução
do chamado devido processo legal. E isso exige provas. Quatro: o comunismo já
acabou, falta vocês acabarem com o anticomunismo. Ah, e ele não se transformou
em “bolivarianismo”. E, ah, nada disso será implantado no Brasil, por óbvio,
mesmo que ridículo Gilmar Mendes (Dantas) tema. Só na cabeça de vocês e de seus
gurus. Cinco: nada, absolutamente nada, que foi dito sobre Aécio Neves é
mentira. E último: leiam coisas melhores do que a Veja. Querem sugestões? Jânio
de Freitas e Ricardo Melo, na Folha (!); blog Diário do Centro do Mundo; Carta
Maior; blog Tijolaço; blog Brasil247; Pragmatismo Político e muitos outros. E,
claro, esse humilde blog, na qual nunca entrou um real, seja público ou privado.
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