segunda-feira, 30 de julho de 2012

VALE TUDO MESMO

               Em seus primórdios, o que hoje se conhece como MMA – Mixed Martial Arts (Artes marciais mistas) ou UFC – Ultimate Fight Championship – era chamado simplesmente de “Vale-tudo”, já que era uma mistura de técnicas e estilos de lutas em que as regras eram mínimas e a diversidade evidente. Valia quase tudo mesmo. Hoje o esporte está altamente profissionalizado e faz sucesso em grande parte do mundo.
                Ironicamente, saiu na internet a notícia de que uma igreja evangélica de São Paulo irá realizar seu próprio campeonato de MMA. O objetivo, segundo o site, é o de arrebanhar mais fiéis. O líder religioso declarou que “é melhor perder um pouco de sangue em uma luta dessas do que a vida nas drogas ou na criminalidade”. Parece que agora estamos diante do Vale-tudo da guerra por fiéis que vem marcando a relação entre igrejas.
                É indiscutível que o MMA está na moda e em franca expansão no país, mas daí a misturá-lo com religião parece um pouco demais. A sanha em se arregimentar fiéis parece mesmo ser insaciável e a disputa parece ser um tanto “criativa”. Não é fácil conceber que, para engrossar as fileiras daqueles que frequentam algum recinto para professar sua fé, se valha de uma luta que por vezes é sangrenta e, sem dúvida, altamente violenta. Soa como banalização da fé e confunde os verdadeiros objetivos de uma religião. Mas isso já vem acontecendo há muito tempo. E não só entre as evangélicas. A católica, que perdeu uma enormidade de fiéis segundo o último censo, também se vale de alguns expedientes heterodoxos, sobretudo utilizando padres pop stars e afagos da Rede Globo.
                O professor Ismael Cury, diretor da Unesc, fez dia desses uma observação bastante pertinente e que confirma essa banalização. Segundo ele, consta da bíblia que Jesus fez, durante sua existência na terra, trinta e um milagres. Hoje, basta ligar a televisão em algum desses infindáveis programas religiosos para ver um sujeito realizar esses mesmo trinta e um milagres em um só dia. Estão banalizando até o milagre. E o pior é que tem gente que acredita. E muita.
                Mário Quintana, em um arroubo ateu, versou que “milagre não é dar vida ao corpo extinto, ou luz ao cego, ou eloquencia ao mudo... Nem mudar água pura em vinho tinto... Milagre é acreditarem nisso tudo!” Talvez não se chegue a tanto, mas é difícil discordar de que as coisas estão banalizadas, que objetivos estão distorcidos e que as pessoas estão muito crédulas.
                A mistura entre fé, poder, dinheiro, marketing etc aliada a charlatães, ludíbrios e escândalos, não parece auspiciosa. E a “concorrência” nesta área está cada vez maior. Tanto é que, bastou uma luta estar na moda para entrar no “show” promovido por algumas religiões. Da mesma forma que oferecem lutas, oferecem milagres, curas, sucesso e outros dotes absolutamente difíceis de se atingir com um simples toque ou desígnio de um sacerdote. Qual será a próxima “jogada de marketing”? Está valendo tudo mesmo.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O FUMO E A LEPRA

                Leprosos foram excluídos e marginalizados durante séculos. A lepra era uma doença sem cura, transmissível ao contato, assustadora, que fazia com que se isolassem seus portadores e causava efetivamente um pânico social a possibilidade de convívio com leprosos. Li que até na bíblia a lepra era considerada um mal absurdo, tido mesmo como um pecado. Hoje, a doença tem cura e, em nome do politicamente correto, nem se chama mais de lepra e sim Hanseníase.
                Os fumantes estão se tornando os novos leprosos. Há uma campanha pela ojeriza ao fumo tão marcante que, mesmo pessoas que até pouco tempo não se incomodavam com o cigarro, passaram a participar dessa cruzada anti-tabagista. Aparentemente em nome da chamada “boa saúde” e de uma duvidosa preocupação com a saúde do próximo.
                Pensa-se, equivocadamente, que só o fato de não fumar – aliado ao de combater o fumo – já serve como garantidor de saúde próspera. Tive a oportunidade de visitar alguns shoppings nessas férias e, pelas enormes filas de Mc Donald’s, Burger Kings e outros, vi que a população está muito preocupada com a saúde... Mas o cigarro é o vilão da vez e a campanha é forte e angaria cada vez mais adeptos e defensores. Leis anti-fumo pipocam pelo mundo e isolam cada vez mais os tabagistas.
                Não vai longe o tempo em que se podia fumar em qualquer lugar e em que a maioria das pessoas fumava, ou, no mínimo, não se importava. Fumar era um hábito social. No cinema era até sinônimo de charme ou de rebeldia. Hoje, se assumir fumante parece o mesmo que dizer que comete um crime grave. “Você fuma????”. O fumante passou a causar espanto, embaraço e passa também por um processo de marginalização. Já não se diz que não se pode fumar em todos os lugares. Na verdade são raros os lugares onde isso é permitido. Criam-se dificuldades imaginando que isso inibirá a prática.
                Um dos argumentos - ridículo por sinal - é de que o fumante passivo está mais exposto aos malefícios do cigarro do que o próprio fumante. Ora, se for assim, talvez seja então melhor fumar do que não fumar. Se o fumante passivo está em piores condições que a ativo, vamos todos fumar.
                Brincadeiras à parte, já é mais que sabido que não se deixa de fazer alguma coisa por esta ser proibida. Se faz ou não se faz algo pela consciência que se tem de que aquilo é certo ou errado. Num tempo em que se defende tanto a liberdade nas escolhas, a ditadura, a truculência e a marginalização impostas aos fumantes não resolverão qualquer problema e certamente serão nocivas. Que o digam os antigos leprosos.

terça-feira, 3 de julho de 2012

OS OPOSTOS SE AFASTAM

               É famosa a lei da física que dispõe que “os opostos se atraem”. Trata-se da parte referente ao eletromagnetismo em que os pólos magnéticos positivos atraem pólos magnéticos negativos e que aqueles iguais, positivos ou negativos, se repelem. Na física, ciência exata, isso é possível e invariável. No entanto, insistem em transportar tal lei para outros campos em que ela, definitivamente, não se aplicará.
                Muito comum se ouvir, sobretudo quando se refere a relacionamentos humanos, que “os opostos se atraem”. Será mesmo? Parece pouco provável. As relações humanas não são travadas de maneira matemática, exata, nem mesmo são pautadas na busca de pessoas que representam nosso avesso.
                Por influência da fama da expressão, muitas pessoas acabam por se enganar, imaginando que a busca por alguém deva ser orientada por uma investigação das diferenças e não das semelhanças. A rigor, demora-se um pouco a se extrair as características de alguém. Não as trazemos estampadas na testa, demandando-se algum contato e convivência para que se conheça um pouco sobre a pessoa. E, em alguns casos, isso nunca chega a acontecer.
                A expressão serve não só para relações matrimoniais, embora seja onde mais se imagine a possibilidade da atração de opostos. Acontece de vermos casais aparentemente inconcebíveis devido a abismos em relação a suas características. No entanto, são esses os que mais se frustram.
                 Também nas amizades, nas relações profissionais, familiares, escolares, sociais etc, nos aproximamos daqueles que se parecem conosco. Compartilhamos e dividimos semelhanças e não diferenças. Daí a inafastável formação de grupos. Esses grupos são grupos de interesse. E são esses interesses comuns, sejam da natureza que for, que unem os seres humanos em suas relações interpessoais.
                Dizer, em termos de relações humanas, que “os opostos se atraem” só serve para justificar más escolhas. Opostos se afastam neste âmbito, pelo menos na esmagadora maioria dos casos. Por mais que procuremos relações que nos completem, não será por meio de nossos antípodas. Características semelhantes é que fazem com que nos aproximemos dessa completude.
                Talvez o problema maior seja encontrar o semelhante. Daí a precipitação em se aceitar até mesmo o oposto. O brilhante Mário Quintana afirmou: “Se eu amo meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar meu semelhante?