segunda-feira, 21 de maio de 2012

VOCÊ ACREDITOU NA XUXA?

                O quadro ‘O que vi da vida’, apresentado semanalmente pelo Fantástico da Globo tem como objetivo uma entrevista franca com notáveis, sendo marcado por “revelações”, declarações polêmicas ou depoimentos comoventes. Já participaram Zeca Pagodinho, Lima Duarte e Chico Anysio, que realmente fizeram valer a audiência, alternando momentos engraçados com outros sérios, reveladores e, sobretudo, sinceros.
                A última entrevistada do quadro foi a Xuxa e, sinceramente, não dá pra atestar credibilidade e franqueza ao que foi falado. Xuxa não é, nem nunca foi, sinônimo de transparência ou sinceridade. Assim que foi anunciada a entrevista, como um “depoimento corajoso, revelador e emocionante”, já me vi cético quanto ao que seria dito e garanti que questões efetivamente importantes e das quais o público nunca a ouviu se posicionar, seriam sequer ventiladas. Houve uma tentativa de reverenciar um romance, como se fosse a coisa mais linda que já houve, com alguém que já se foi. Convenientemente, em outras partes, ocultou nomes e fatos e tentou colocar-se como alguém “comum”. Difícil acreditar, por exemplo, que Xuxa tenha orgulho de ser suburbana, como afirmou.
                Xuxa “revelou” que sofreu abusos até os treze anos, sem, no entanto, explicar direito, alegando uma conveniente amnésia. Foi evasiva, generalizou e acabou não dizendo nada. É neste terreno de abusos onde reside propriamente um dos assuntos que deveriam ter sido tratados, caso fosse uma entrevista efetivamente franca, qual seja, o filme erótico estrelado por ela em que contracena com um menor de apenas doze anos, em cenas absolutamente picantes. Consta que Xuxa conseguiu recolher, à custa de muita grana, quase que completamente, as cópias existentes do filme. Se fosse hoje, com a velocidade da internet e sua falta de limites, cada um teria uma cópia em seu e-mail. Que o diga Carolina Dieckmann.
                Mas o que importa não é o recolhimentos das fitas e sim o que ela fez com o menino de apenas doze anos nas filmagens. O Código Penal dispõe ser presumida a violência sexual quando haja relação com menor de quatorze anos. De clareza solar, portanto, que Xuxa também foi algoz. No entanto, diante da gigantesca audiência do Fantástico, se limitou a se vitimizar e esquecer que já deixara suas próprias vítimas. Posou ainda de inflexível defensora das crianças vítimas de abusos.
                Continuando, ergueu um enorme altar para Ayrton Senna, jungido a grande amor de sua vida e exemplo inquestionável - para ela - de grande homem, irrepreensível. É cômodo, diante da grande cobrança que recebe diuturnamente, se mostrar também como exemplo de boa mulher, boa mãe e com uma família sólida, do ponto de vista burguês-clássico e buscar no além a companhia ideal. Senna não voltará, mas será sempre seu “grande amor”, evitando cobranças desagradáveis. Seria como dizer: “meu homem já está no céu, desculpe”. Xuxa se colocou como viúva de Senna. Os dois “queridinhos do Brasil”. Pode encontrar concorrência, já que outra loura também se imagina nessa condição, talvez até com mais propriedade, pois era sua namorada na época de sua morte.
                Xuxa forçou uma humildade e uma simplicidade que todo mundo sabe que ela não tem. Tentou um choro em algumas oportunidades, mas parece que as lágrimas se recusaram a participar da farsa. Mostrou um pragmatismo incrível e soube usar o espaço para reforçar sua imagem de candura, criada e moldada pelos gênios globais. Faltou a devida espontaneidade. Soou muito falso, difícil de acreditar no que foi dito, o que não parecia ser o intuito do “depoimento”.

19 comentários:

  1. Arrasou no texto.A audiência de Xuxa está em decadência a tempos, e para "levantar" o ibope tentaram colocá-la como boa moça, como vc mesmo mencionou.Lamentável o que essa rede globo coloca boca a dentro do povo brasileiro.

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  2. Grande Bernardo! Espontaneidade nunca foi o forte da Rainha dos Baixinhos.. Também me chamou a atenção a transparência seletiva da entrevistada. E viva a liberadade de expressão, que se presta a bancar justamente as nossas falas desagradáveis e politicamente incorretas. Se fosse só para elogiar e falar macio, ela seria dispensável. Parabéns pelo blog, está ótimo! Se lhe render algum lucro, sou testemunha de que Mariana e Eliana merecem participação, pela dedicada divulgação! Cheguei aqui por elas. Saudade de vocês! Abraços! Joana

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  3. Esse programa não poderia mesmo ter outro nome, pois é “Fantástico” o tanto de babaquice que passa nele. Segundo os especialistas do setor, o programa está em baixa, aí juntaram com a “Rainha dos baixinhos”, que há muito já havia perdido o teu espaço. Só poderia dar mesmo nisso: uma entrevista com texto artificialmente ensaiado, fazendo assim, com que todo o relato dela perdesse muito – para não dizer toda - a credibilidade, pois o público percebeu rapidamente que aquilo era forjado. Mesmo que seja verdade o que ocorreu com ela, quando criança, essa suposta violência contada em rede nacional acabou se misturando a uma espécie de fantasia delirante que não deixa mais, assim tão clara, a linda tênue entre a loucura e a realidade. Será que foram esses abusos que a motivaram a fazer um filme pornô com uma criança de 12 anos e a posar nua para uma revista masculina? Há coisas que se deve esquecer, outras, porém, é uma agressão não lembrar. Que amor é esse que ela sente pelos “baixinhos”? Amor, estranho amor. O festival de incoerência foi total. Olha o jogo das palavras! É a porcaria, o lixo cultural, tomando o lugar da arte. A internet estraga bem mais as pessoas que já são ruins.

    Susan Mara

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  4. Meu amigo você escreveu tudo aquilo que pensei e creio, mais uns milhões de brasileiros. Incrível, ouvi comentários de pessoas que até choraram com a palhaçada. Bem típico do programa em questão, que nunca assisto, mas não pude deixar de ver a entrevista tamanha repercussão. O que ela queria conseguiu, pois, certeza, tem gente que acreditou. Ótimo texto. Bjsss

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  5. Que a entrevista da Xuxa faz parte daquelas estratégias para levantar a audiência de programas e celebridades decadentes, conforme reza a pirotecnia midiática da atualidade, não há dúvidas. Creio que o objetivo foi conquistado: gostemos ou não da Xuxa/Fantástico, se acreditamos ou não no conteúdo da entrevista, o fato é que o barulho foi feito, as pessoas estão comentando, a audiência foi conquistada e Fantástico/Xuxa encontram-se na vitrine novamente. Agora, em relação às revelações da outrora "rainha dos baixinhos", ainda não consegui me posicionar definitivamente a respeito, em termos do que seria, em seu conteúdo, fraude/simulação ou realidade, mas creio que as palavras dela vão ao encontro daquilo que o imaginário popular pedia ou esperava que ela falasse: uma mulher bonita cujas fatalidades vida não possibilitaram de que sacramentasse seu grande amor; uma infância sofrida; adversidades até chegar ao estrelato etc. Tudo isso serve para manter sua imagem perante ao seu público e, indiretamente, reforçar os mitos do amor romântico, da superação das adversidades pelo trabalho e do "orgulho" pelas origens. Concordo com você Bernardo, quando critica a memória seletiva dela pelo fato de, ao posar como vítima de abuso sexual, omite convenientemente o seu passado profissional num filme com um menino de 12 anos. Mas, como disse anteriormente, para mim tal omissão ocorre porque seu público alvo também almeja isso: a imagem da eterna rainha, bela loira de olhos claros, fique irretocável. Não a condeno pelo fato de ter feito o filme com cenas de sexo com o menino, pois penso que é preciso entender as circunstâncias do momento e o que era tolerado ou não. Contudo, penso que se um dos objetivos da entrevista era levantar a bandeira contra o abuso sexual infantil, seria mais verdadeiro da parte dela se comentasse sobre o filme e eventuais problemas gerados por ele. Enfim, por que esperar tal transparência dela? Impossível, pois na verdade a Xuxa é um produto que reproduz aquilo que seu produtor planta e o que seus consumidores querem se abastecer.

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  6. Cara, aquilo foi a maior falsidade do mundo. Não sei como ela não se borrou toda devido a força que ela fez para chorar. Se ela queria ajudar na Campanha contra o Abuso Infantil, fizesse de outra forma. Até que usou a mídia correta. Mas, pelo amor de Deus..... Falsidade, hipocrisia, demagogia, enfim.
    Junior

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  7. Além de demasiadamnte longo o depoimento de Xuxa, ao contrário de outros nobres artistas que já participaram do programa, e que teriam muito mais a dizer e revelar, os extensos minutos dedicados à rainha dos baixinhos mostraram mais uma vez como pode ser patética a tentativa de moldar a imagem de Xuxa com informações muito vagas e imprecisas.
    Deixa ela continuar vivendo no seu mundo do faz de conta.
    Grande abraço meu caro amigo PERCEPCIONISTA.
    Continue nos agraciando com suas visões de mundo que são extremamente saudáveis ao exercício do pensar.
    Valeu.
    Bruninho

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  8. Concordo plenamente com você, não acreditei em uma só palavra do que a mesma falou. Tudo para tentar voltar a mídia, e a globo como sempre perdendo o prestigio, só trás reportagem com ex-bbb, paniquete, e Neymar, já perdeu até a graça entrar no site da globo ou assistir as suas programações!
    Abraço
    Jeanderson Luiz

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  9. Simplesmente perfeito esse texto. Parabéns! Com três minutos da entrevista pedi pra minha mulher mudar de canal, era muita falsidade e apelação. Lembro-me como se fosse ontem que aquele garotinho foi exposto num filme pornô (não me venham com essa história de nú artístico), a Matilde Mastrangi abria o roupão e ficava nua na frente do menino, pegava a mão dele e colocava no seu seio. Ora, a Xuxa, se tinham tanto trauma, só de ver o menino no set de fimalgens deveria sair correndo e gritando pelas ruas...O pior é que tem gente louvando a "coragem" da Xuxa...francamente...
    (Wilson Gama)

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  10. Realmente, falsidade explícita no depoimento, imagina uma pessoa como a Xuxa, que é só arrogância e prepotência, lembra quando sua filha nasceu? um andar inteiro de um hospital luxuoso, foi refeito, por assim dizer, pra que a rainha tivesse sua filha, todas as mães são rainhas e todos os seus filhos são príncipes ou princesas, muitas rainhas dão a luz no chão de um hospital por falta de leito, isso é o que ela viu da vida? Luxo? E ser abusada sexualmente cade os nomes? Fui abusada quando criança mas tenho o nome do individuo até hoje Cesar um tio meu, e espalhei para a familia,ele não teve outra oportunidade, não fui culpada, nem o provoquei.É facil amar quem morreu, porque não ficou com ele, mas é muito melhor se promover em cima do nome dele Senna.

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  11. Fui escrevendo meu comentário aqui e ele acabou ficando muito grande. Resolvi publicá-lo no O Trovante:

    http://otrovante-blogdowilliam.blogspot.com.br/2012/05/eu-acreditei-na-xuxa.html

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  12. foda é o menino que pode dizer para os amiguinhos: " eu comi a xuxa"
    Pele e Sena tiveram a mesma sorte.

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  13. Bernardo, li o seu texto e o do William. Ainda que as razões apresentadas pelo Grilli sejam razoáveis, inclino-me a concordar com você por uma simples razão já dita aqui várias vezes: ela não transmitiu sinceridade. Eu sequer me emocionei. Parabéns!

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  14. A declaração da Xuxa dizendo que foi abusada quando criança gerou mais 220 mil ligações e novas denuncias através do disque 100 e o seu comentário preconceituoso no que deu até agora?

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    1. Não pretendo responder quem se esconde no anonimato, pois considero covardia. Mas abrirei uma exceção:
      Não percebi que era uma propaganda do disque denúncia ou alguma campanha. Me desculpe, sr ou sra Livros, mas mantenho toda a crítica, até por que não fiz com nenhum objetivo pessoal. Só me faltava essa...

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  15. Pertinentes, como sempre, suas observações sobre o triste episódio.

    A estratégia do mau-caráter em se fazer passar por ingênuo é, certamente, tão antiga quanto a própria humanidade, mas sempre há contextos onde ela pode se sobressair.

    A cultura brasileira insiste em negar em seus indivíduos tudo aquilo que destoe da simpatia, da solidariedade, da flexibilidade, o que dá margem para uma tolerância patologicamente aumentada em relação à canalhice.

    As matérias do Fantástico que veiculam falcatruas e negociatas promovem, sim, uma fugaz indignação dirigida a aqueles (e unicamente a aqueles) mostrados no programa. No entanto, o apelo à pieguice, uma constante em seus demais quadros, tem o poder de dissipar qualquer crítica à essência do que é veiculado.

    Essa ética piegas pressupõe dois pólos: o do canalha, que a inclui entre os mais efetivos instrumentos de seu arsenal, e o do receptor que, por conforto ou inconsciente conivência aceita seus apelos.

    Abuso?! Abuso é a propaganda afirmando que só com o laptop da Xuxa a brincadeira é realmente divertida; é receber uma quantia por cada bala que a criança escolhe por causa de sua foto impressa no invólucro. Abuso é associar uma dicção infantilizada a uma roupa sexy e negar que isso tenha a ver com o aumento da incidência da gravidez adolescente. Abuso é querer passar a imagem da mulher que concebeu sem pecado. É expor a filha a um verdadeiro “Show de Truman”, onde os ganhos financeiros são incomparavelmente maiores do que já muito amplos ganhos narcísicos. O currículo de abusos da apresentadora é quilométrico!

    Mas o brasileiro prefere a pieguice e a hipocrisia, insistindo em manter-se alheio a seus efeitos próximos ou distantes. “Ingenuamente”, somos meras vítimas do abuso daqueles a quem convencionamos que devem ser criticados, sem jamais levarmos à frente nossas críticas.

    Para manter sua ingenuidade, o brasileiro precisa de ídolos ingênuos e vilões da semana. Parabéns ao Fantástico que nos provê dos dois!

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    1. Concordo com seu último parágrafo em relação ao fato do brasileiro preferir a pieguice e a hipocrisia. Apenas penso que, em sua maioria, nós brasileiros não somos ingênuos, mas dissimulados.

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  16. Me deixa profundamente feliz, tecnicamente, saber que o "depoimento" da xuxa funciona. Tecnicamente porque sou um estudioso da linguagem, e me é caro saber que ela é extremamente eficaz. Sustentada por nada, falsetes e falsidades, ela ainda provoca, emociona, choca, alardeia. Adorno teria orgasmos múltiplos ao ver que o que ele previu, aconteceu. Provocar comoção nacional, movimentos, campanhas, ondas compulsivas; se é verdade ou não, Bernardo, para mim, é o ponto menor; o interessante é saber o poder da linguagem, o poder de mitos, dialogar com estes mitos e catalizá-los como bombas nucleares no peito do ze povinho. Reconhecemos o povo por seus heróis; pelé e senna; o último ainda o pior; o fodão porque ganhava? quem não morre de fome todo dia e trabalha arduamente deveria ter trilha sonora; tentar fazer o melhor é obrigação; não acredito em ninguém que vai a TV; só os cadáveres, que já não podem se defender e ultimamente dão mais audiência que muitos; temos um pacto maligno: acreditamos em tudo que se fala e vivemos livres da obrigação. Xuxa, obrigado por você existir. Você me conforta sabendo que nossas crianças estão com você. Me deixa tranquilo saber que sua insônia é por meus filhos, pela minha família. Sua preocupação me toca. E te digo mais, querida xuxa, vou usar o espaço já popular do meu amigo Bernardo, quem sabe você leia, mas por favor, me responda: o que você quer de mim agora? que eu compre a lancheira? blz. O novo xuxa só para baixinhos 23? Rezarei por ti aqui em casa, e te digo a resposta da pergunta que fizerdes no programa: será que sofri tudo isso por uma missão? te digo xuxa, sim; você é um cristo de saia. Parabéns Linguagem; Parabéns Ideologia; Parabéns Hitler; Parabéns Lula;
    ass: pânicosocial
    Parabéns professor Bernardo

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