quinta-feira, 10 de maio de 2012

MEIA NOITE EM PARIS

                O filme ‘Meia Noite em Paris’ de Woody Allen, ganhador do último Oscar de melhor roteiro é genial. O longa é inteligente, interessante e faz pensar. O protagonista vive um dilema saudosista em torno da qualidade artística de nossos dias e sonha com um passado que não viveu. Ele consegue realizar a façanha de voltar no tempo e ter um encontro com seus ídolos. No entanto, descobre que, em qualquer época, há uma sensação de que as coisas de antes é que eram melhores.
                Serve para ilustrar o que muito se questiona atualmente. Vivemos efetivamente dias piores? A vida de antes era melhor? Ou tudo era apenas diferente? Que resgate queremos trazer para os dias de hoje?
                Passamos, inquestionavelmente, por mudanças sociais cada vez mais rápidas, diversificadas e marcantes. Aqueles que são atores dessas mudanças entendem o que vem acontecendo, participam e sabem extrair o que se melhora.
                Os saudosistas, conservadores ou reacionários, são refratários a mudanças, parados no tempo na inútil tentativa de imaginar que ele não passa e que as coisas não mudam. São adeptos das frases clássicas: “no meu tempo era bem melhor” ou “no meu tempo as coisas não eram assim”. É comum chamarem de crise as mudanças experimentadas na sociedade. Crise da Família, crise do Estado, crise sexual, crise, crise etc.
                Sem dúvida tivemos muita coisa boa no passado e que dificilmente se repetirão no futuro. Mas daí a achar que tudo o que acontece hoje deve ser revisto e o passado recuperado, além de imbecil, é impossível.
                Realmente, jamais surgirá outro Pelé, outro Frank Sinatra, outro Einstein, outro Dali, outro John Lennon, por que os gênios são insubstituíveis. Mas teremos – e temos – gênios do nosso tempo como Stephen Hawkins, Steve Jobs, Michael Jordan etc. Não teremos mais necessariamente a família burguesa ‘Papai, mamãe, filhinhos’, mas teremos o reconhecimento de famílias plurais e democráticas, calcadas no afeto, independentemente de sua conformação. Não teremos um futebol-arte como aquele do século XX, mas teremos bom futebol , com surgimento de craques, técnicas e táticas modernas.
                Precisamos aceitar definitivamente que o mundo não só já mudou, como muda constantemente. Quem se recusa a participar desse processo para no tempo e se coloca em verdadeiro confronto com a realidade.
                Pode até ser que, para muitos, antes tenha sido melhor do que hoje. Mas o melhor mesmo é fazer com que o hoje se torne assim tão bom e não sonhar com um passado que, certamente, não vai voltar.

Um comentário:

  1. Mais um fantástico texto!!! É surpreendente a sensação de ler algo de conteúdo(qualidade), que está escasso na maioria dos lugares que vejo(leio, ouço e assisto). Como no próprio texto é citado ''Pode até ser que, para muitos, antes tenha sido melhor do que hoje. Mas o melhor mesmo é fazer com que o hoje se torne assim tão bom e não sonhar com um passado que, certamente, não vai voltar.'', o passado deve ser lembrado como algo nostálgico, um lugar para confortar quando bate a bendita saudade, e deve servir de base para contrução do presente. Porém, as pessoas que se recusarem a se atualizar conforme as mudanças, estarão fadadas ao esquecimento.
    Obrigado por compartilhar sábias palavras!
    Um abraço,
    Att., Miguel M.
    (vulgo, kobinha)

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