quarta-feira, 16 de maio de 2012

ANTICLIMAX

               A pelada da turma da oito acontece há mais de vinte anos, reunindo amigos. Alguns são bons de bola, outros nem tanto e ainda uns nem um pouco. Todo sábado à tarde o ritual é o mesmo: Aos poucos vão chegando ao campinho onde se joga o tradicional futebol ‘society’ os protagonistas do “espetáculo”. O primeiro a chegar é sempre o velho Rocha, principal organizador e entusiasta do encontro semanal. O último é sempre o Gérson, que, quando chega, fica sempre para jogar a segunda partida.
                Durante esses mais de vinte anos já aconteceu de tudo na pelada da turma da oito: Brigas homéricas, pazes feitas, novas amizades, gols espetaculares, frangos históricos, apostas pagas e não pagas, disputa entre solteiros e casados, participação de jogadores famosos, de cantores, de políticos fazendo campanha, churrasco de todas as carnes imagináveis, comíveis e não comíveis, mulheres buscando marido pela orelha e por aí vai. Além daquelas que o pessoal jurou guardar segredo.
                Teve uma vez em que o Rochinha, filho do velho Rocha, apareceu acompanhado de um camarada cheio de marra, apresentado à turma como seu novo colega na repartição onde trabalhava como vistoriador de veículos.
                O sujeito parecia um jogador profissional. Tinha toda a pinta. Camisa da seleção da Espanha com a gola virada para cima, impecável. O short da marca esportiva mais famosa e vendida do mundo, no comprimento exato. Meião da marca concorrente, baixado à altura da caneleira e uma chuteira reluzente, do mesmo modelo usado pelos maiores craques do futebol mundial. Bastou o indivíduo começar o aquecimento, que fazia à maneira dos jogadores profissionais, com saltinhos e pequenas corridinhas, para chamar a atenção da turma e despertar sussurros do tipo: “esse cara deve jogar muito.”
                Com efeito, o amigo do Rochinha foi o primeiro a ser escolhido quando da formação dos times, tamanha era a expectativa da turma sobre o novo “craque”. Bastou o primeiro toque na bola para ele mostrar a que viera. Recebeu um lançamento perfeito, na cara do gol, e... deu uma “furada”, daquelas que derruba o camarada no chão. Levantou-se, pediu desculpas e continuou, pronto para a próxima, que não demorou a chegar. Bola de novo pra ele no ataque. Só que, em vez de dominar, pisou nela e levou um tombo pior do que o anterior. Não bastasse isso, depois de cinco minutos de jogo, já não conseguia correr e pediu para sair. Que decepção! Saiu sob insultos e gritos de “não precisa mais voltar!”
                O problema era que a pelada estava contada, ou seja, os dois times estavam com o número exato de jogadores e não havia ninguém esperando do lado de fora. Olharam à volta na esperança de encontrar alguém e perceberam que havia um moleque, em cima de uma árvore, observando tudo. Perguntaram àquele moleque magricela, maltrapilho, sem camisa, que calçava uma daquelas sandálias que hoje são famosas, mas que quando seu pai as comprou há muitos anos eram as mais baratas do mercado, com um short roto, que herdara do irmão mais velho, se ele queria participar do jogo, no lugar do decepcionante “craque”.
                O menino, envaidecido com o convite, aceitou de pronto, descendo imediatamente da árvore e já se postando em campo no lugar de seu malfadado antecessor. Não demorou ao moleque mostrar a que viera. Bastou uma bola para ele e a conclusão foi unânime... ele era pior do que o outro. Furou, caiu, perdeu gol sem goleiro, fez gol contra... Decepção geral, novamente.
                Estão vendo, de onde menos se espera é que não sai nada mesmo.

5 comentários:

  1. COMO SEMPRE O VELHO BERNARDO COM SUAS FÁBULAS KKKKK

    SÓ FALTOU FALAR QUE O SHORT DO MENINO ERA O VELHO CONGUINHA KKKKKKKKKKK

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  2. Olha aí heim? proseado vigoroso e concatenado. Tem ginga a escrita. Espaço legal. está nascendo um cronista?. Invista

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  3. Divertida Crônica, parabens!
    Nada como um humor inteligente para passar o tempo.
    O Mestre inspira o discípulo...

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