segunda-feira, 21 de maio de 2012

JÁ FOMOS INTELIGENTES?

                Recentemente, o jornalista Carlos Nascimento cravou em um comentário no Jornal do SBT, do qual é âncora, que nós brasileiros “já fomos mais inteligentes”. Nascimento estava inconformado com as últimas notícias que acabara de transmitir envolvendo a repercussão do fenômeno Luísa (aquela que estava no Canadá e, de repente, ficou em todo lugar) e do suposto estupro no Big Brother Brasil.
                Soou ranzinza e acabou por confundir inteligência com bom gosto. Além de esquecer o gigantesco poder da internet. A pergunta que surge, no entanto, é a seguinte: “já fomos mesmo inteligentes?”
                O Brasil sempre se destacou muito mais por suas atividades corporais do que cerebrais. Somos referência mundial em esportes e danças, havendo brasileiros consagrados mundialmente nestas áreas. Mas quando o assunto é cérebro, não chamamos tanto a atenção. Para se ter uma idéia o Brasil nunca ganhou um prêmio Nobel. Ao contrário de nossos vizinhos sul-americanos. A Argentina já abocanhou três em áreas científicas e outros países como Peru e Colômbia ganharam em literatura.
                Nas artes tivemos alguns movimentos interessantes e destacados como a Semana de Arte Moderna de 22, a MPB e o carnaval. Mas, mesmo dependentes de grande inteligência, se destacam mais pela inspiração e o talento de seus integrantes.
                Não se quer aqui afirmar que não somos inteligentes, apenas que temos a mesma inteligência de outrora. Talvez tivesse mais razão o Carlos Nascimento se dissesse que já tivemos mais bom gosto. Neste ponto realmente regredimos.
                A culpa em parte vai do gosto individual, mas o que transforma em algo coletivo é o fato de que há muito tempo só recebemos porcarias. Acabamos por ser resultado daquilo que vemos e ouvimos o tempo todo. A massificação do mau gosto traz esse tipo de resultado. O próprio canal em que trabalha o citado jornalista não preza pelo bom gosto.
   Música universitária nos anos 60 e 70 era MPB. Nos 80, rock. Hoje é esse sertanejo estilizado (e de gosto duvidoso). Os livros daquelas épocas eram os clássicos e os de grandes escritores premiados. Hoje são de auto-ajuda (o Brasil é o penúltimo colocado no ranking de leitura na América latina). Havia luta pela liberdade. Hoje estamos cada vez mais reclusos, satisfeitos com o que a internet e a TV nos despejam.
                É claro que precisamos de diversão barata, que, pelo visto, incomodou muito o apresentador. Mas só isso não basta. É claro que não podemos achar que a vida é um big brother e nem que um fenômeno repentino e efêmero como Luísa ou a família "para nossa alegria" tem alguma relevância. Temos a mesma inteligência. Só precisamos recuperar o bom gosto.

4 comentários:

  1. É uma tarefa difícil estabelecer diferenças nos níveis de inteligência entre uma e outra geração. Mas, tomando como base a escolaridade média dos deputados federais e o exemplo do tipo de música ouvida pelos universitários décadas atrás, podemos perceber que, se não houve redução no nível de inteligência, uma parcela significativa dos eleitores e dos estudantes do ensino superior é muito competente em simular profunda ignorância. Décadas atrás, as músicas ouvidas pela parcela da população responsável pelas mudanças de paradigmas e estruturas da sociedade versavam sobre liberdade, direitos humanos e justiça social, atualmente basta a repetição de uma sílaba (créu, créu, créu) para colocar em movimento o corpo e em stand-by os cérebros dos nossos estudantes.
    Não dá para considerar inteligente uma nação destina mais dinheiro público para as empreiteras do que para a educação de seus cidadãos.
    Recomendo aos seguidores do Percepcionista que assistam "Idiocracia" (http://www.youtube.com/watch?v=gK2diven4RU), uma tosca comédia hollywoodiana que demonstra um possível destino para uma sociedade hipinotizada pelo marketing, sedenta pelo consumo e alimentada com ideologias anti-intelectuais.

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  4. A questão é buscar compreender uma sociedade que se apresenta culta e bem desenvolvida em alguns pontos e em outros, apontando a decadência do bom gosto e uma variação cultural assustadora. Cada indivíduo acrescenta ao seu cotidiano o que for melhor aceitável. Ótimo texto Bernardo, mais uma vez mostrando um senso crítico baseado no conhecimento verdadeiro do assunto!

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