quinta-feira, 30 de abril de 2015

MASSACRE E TRAGÉDIA



                  Praqueles imbecis que pedem intervenção militar, volta da ditadura ou que pensam que vivemos em uma ditadura “bolivariana” (embora nem saibam o que significa) vai a sugestão: se mudem pro Paraná. O que se viu no último dia 29 de abril mostra como funciona a repressão a protestos nobres e lícitos em regimes dessa natureza. E olha que eram professores... É dessa reação “justa” e “legal” que esse povo que defende regime militar gosta?
                Professores protestando pacificamente por direitos que estavam prestes a lhes ser tomados. Assim como tem acontecido em São Paulo e outras partes do país. E a mídia tucana chamando de confronto. Confronto??? Isso requer um mínimo de paridade de armas. Eram cartazes e gritos contra balas de borracha, sprays, cacetetes, bombas de efeito moral e pitbulls. Os relatos e as imagens, sobretudo, são estarrecedores. Destoando, surpreendentemente, até Ricardo Noblat chamou o governador do Paraná de estúpido.
                O governador Beto Richa (ou Beto Hitler, como tem sido corretamente chamado nas redes sociais e na internet) se “justificou” acusando Black blocks e dizendo que a reação da polícia foi direcionada a eles. Ora, faça-me o favor! Será que Richa, governador de um estado tão importante, não sabe distinguir nem isso? Ou é tão difícil assim separar um Black block de um professor? E ele afirmou que eram “alguns”. Os professores feridos foram quase duzentos. O nome disso é massacre.
                Os manifestantes tentavam chegar até a Assembleia Legislativa do estado, um prédio público, do povo, mas que estava cercado por policiais. Quatro mil agentes públicos, que em vez de patrulharem e protegerem o cidadão, estavam deslocados para guerrear contra professores. Estes protestavam contra um confisco da previdência do estado proposto pelo governador e ainda por uma série de perdas de direitos trabalhistas e previdenciários. Diante do resultado, mesmo justos, os motivos acabam por irrelevantes na análise. Qualquer que fossem afinal, não se justifica a abominável barbárie.
                Há vídeos circulando com membros do governo paranaense comemorando a “ação” policial. Isso sim é crime. Aqueles que poderiam impedir o massacre, além de se omitir, festejam a tragédia. É uma inversão total de valores. Forjou-se uma foto de um policial “ferido” para dar ares de ação legítima contra inimigos poderosos e perigosos. O sangue que escorria era tinta, como a própria policia assumiu. A arma dos professores é mesmo tinta, mas aquela que escorre de suas canetas. É por elas que na maioria das vezes se manifestam. A pantomima é ridícula. Mas é trágica e expõe entranhas nada agradáveis.
                Há um alento nisso tudo e que deveria servir de exemplo. Há dezessete policias presos. Exatamente por se recusarem a participar do massacre. Alguém ainda é digno, felizmente. Porém, os valores continuam invertidos: quem deveria estar preso no lugar é quem ordenou ou foi conivente com isso tudo. Ou a democracia que tanto foi pedida pelos eleitores tucanos nas ruas não deve ser respeitada nessas horas? É assim que se calam protestos quando são contra eles? Alguém foi alvejado, mordido ou sufocado nas manifestações contra o governo federal?
                 Ainda nem mencionei que o governador é do PSDB. Mas é imperioso se lembrar disso. E o partido dele, não vai se posicionar? E Aécio Neves que nem dorme em sua cavalgada louca contra Dilma, acha tudo normal? Deve achar, certamente. Em Minas ele também era ditador. É o jeito tucano de fazer política.
                Um partido que tanto fala em impeachment, em liberdade, que ilude os incautos ao anunciarem que vivemos sob uma ditadura, deveria agora se movimentar e dar o exemplo. Se tivesse o mínimo de dignidade, Beto Richa renunciaria, largaria a política herdada do pai e iria brincar de outra coisa. Como deveriam fazer muitos outros filhotes e netinhos mimados tucanos.

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