Heraldo completou cinquenta e
cinco anos se sentindo muito bem, com todo o pique e uma disposição que
considerava invejável. Divorciado há quinze anos e aposentado há dois, com uma
situação financeira estável graças às economias durante a vida e à
aposentadoria de fiscal, decidiu por em prática alguns dos planos que cultivava
em segredo, como se casar novamente, praticar corrida e cursar filosofia.
Antes
porém, preferiu consultar os filhos e amigos, já que sempre gostou de expor o
que pretendia fazer e de ouvir a impressão das pessoas próximas e queridas
sobre aquilo que desejava realizar.
Abordou
a filha e disse que estava propenso a pedir a mão da sua namorada em casamento.
- Ora, papai! Que ideia mais absurda. Você já não tem mais idade para essas
coisas não. Que besteira. Heraldo engoliu seco o discurso da filha e decidiu
pensar melhor no assunto.
Encontrou
o filho chegando da faculdade. O garoto cursava publicidade e estava no último
ano. Perguntou de repente: - Você já pensou em fazer outro curso depois que
terminar esse? – Claro que não né, pai. Já tô me matando só com esse. E outra,
quero seguir carreira. Mas por quê a pergunta? – É por que eu estava pensando em
fazer vestibular pra filosofia... – O que, pai??? Que bobagem. Você já tá coroa,
vai pagar de garotinho na facul agora? Sai dessa. O pai baixou os olhos e ficou
de refletir sobre a ideia.
Chegou
no boteco onde todas as quartas-feiras tomava um sagrado chope com seus dois
grandes amigos, o Bira e o Esteves. - Pessoal, tomei uma decisão: vou virar
maratonista. Os ouvintes caíram imediatamente na risada. – Ô Heraldo, você não
corre nem pro banheiro quando tá apertado, disparou o Esteves. E outra,
completou o Bira, isso é coisa de moleque, você já passou da idade há muito
tempo. Heraldo se calou, desolado.
Foi
embora do bar pensativo. Será que era isso mesmo? Estava velho, acabado pra
tudo que sempre planejou? Enquanto divagava, não percebeu que já estava no meio
da rua e também nem viu quando o carro que vinha em alta velocidade na sua direção
o pegou em cheio. Já chegou sem vida ao hospital.
No velório lotado, todos
consternados com o ocorrido. Que brutalidade, diziam. Até que chegou uma antiga
colega e perguntou a um dos filhos do morto: - Quantos anos ele tinha? –
Cinquenta e cinco. – Nossa... muito novo né???
Nenhum comentário:
Postar um comentário