Dentre
as inúmeras ‘receitas de vida’ publicadas nas redes sociais, chamam-me a
atenção algumas relacionadas ao amor, tema, sem dúvida, dos mais recorrentes e
que possui um grande números de ‘experts’ ou de frustrados que gostam de se
expor ou, mais ainda, de “aconselhar” os menos afortunados.
Insistem,
alguns deles, em uma espécie de racionalidade do amor. Os ‘conselhos’ são no
sentido de que “ame quem te ama” ou “valorize se alguém te ama, depois pode se
arrepender...” Ora, será que essas pessoas tão “experientes” na matéria não
sabem até hoje que não há racionalidade nisso? Ou pensam que basta querer ou
basta ser amado por alguém para se amar também e na mesma intensidade e no
mesmo instante? E algumas vezes expressa também um revanchismo do desiludido
que gosta de vaticinar: quando você me quiser, não estarei mais disponível. Que
bom.
Reduzem
um sentimento complexo como o amor a uma escolha, como se definíssemos quem
amaremos e quando amaremos como definimos nossa profissão, a roupa que vestiremos,
o que vamos comer ou o time para o qual torcemos. Amar vai muito além da
racionalidade ou de receitas imbecis e falsamente românticas. Tanto é que nem
me atreverei a tentar qualquer definição ou ensaio aqui.
Outro
ponto que conforta alguns frustrados é a afirmação do tipo “se for seu(sua),
volta” ou “se for pra ser, será.” Será mesmo??? Aí saímos do terreno firme da
racionalidade para o pantanoso imponderável. Mantém-se como combustível uma
esperança que provavelmente nunca se materializará, mas o incauto se prende a
ela, aumentando a desilusão e o rancor. Mas como lamentavelmente vivemos na era
da auto-ajuda, parece uma dica viável...
Outra
ridícula é a que afirma que “se acabou, não era amor”. Ah é??? Então quer dizer
que amor não acaba ou que só amamos uma vez? Parece-me mais uma forma de tentar
justificar relacionamentos longos, mas falidos há muito. “Nos amamos, acima (e
apesar) de tudo.” E são infelizes nessa utopia. Por que não amar muitas vezes?
Claro que é possível. Amores nascem, surgem, se transformam, crescem e, muitas vezes, acabam sim. Prefiro seguir
com Raul Seixas na belíssima “Medo da Chuva”: “ninguém nesse mundo é feliz
tendo amado uma vez...”
Ame...
sem receita.
Excelente!
ResponderExcluirMaravilhoso!!!
ResponderExcluirNossa, perfeito seu texto! Parabéns!