Não posso
esconder a minha satisfação ao ler na Tribuna da semana passada que, enfim, o
ministério público denunciou o prefeito de Cacoal e alguns dos seus sequazes
por algo que todo mundo já sabia e comentava: a horripilante e injustificável “contratação”
de um escritório de advocacia de outro estado para “advogar” pelo município a
valores astronômicos e com aparente “direito” a indicar servidores, como o
ex-procurador geral e a assessora do prefeito, também denunciada, que possuem ou
possuíram vínculos com o tal escritório. Tal servidora é a mesma que ofendeu
este nosso querido jornal, num indisfarçável incômodo com o fato da Tribuna
noticiar a verdade, sem compromisso nem rabo preso com ninguém. Essa
independência realmente deve incomodá-la, minha senhora.
Houve, de
fato, como noticia muito bem este nobre semanário, um certame licitatório, que
agora se revela aos olhos do ministério público, pois os bem informados da
cidade já sabiam de há muito, absolutamente irregular. Creio que nosso alcaide,
talvez inspirado no guru máximo de seu partido, não deveria saber de nada.
Aliás, me parece que ele nunca sabe de nada, não sendo nem mesmo consultado
sobre os caminhos de nosso município. Mas sempre tem quem saiba, senhor
prefeito, e essas coisas uma hora vêm à tona. E, como religioso que é, sabe que
mais cedo ou mais tarde terão de pagar pelos “pecados”.
Anoto, por
oportuno e para estarrecimento, que nossa cidade possui uma banca de cinco
procuradores municipais concursados, além de seus assessores, bem como dois
cargos em comissão: procurador e, pasmem, subprocurador do município. Não dá
pra imaginar uma demanda tão extensa para uma cidade de oitenta mil habitantes
e uma necessidade de se contratar um escritório de fora para atuar em causas corriqueiras
e simples. É legalmente injustificável, mas, em política, essas coisas acabam
acontecendo, lamentavelmente. Mas enfim o MP lançou luzes sobre o caso e
torce-se para que dê o resultado esperado e se alcance a justiça, a bem dos
cofres públicos municipais, eternamente combalidos, bem como da necessidade de
termos servidores probos em nossos quadros.
Cacoal, de uns
tempos pra cá, tem funcionado como uma cidade de administração, digamos,
inusitada, pra não dizer absurda. Trata-se de um canhestro sistema
parlamentarista, inapropriado – e impossível – em nível municipal. Suponho que
seja inédito, inclusive. O que caracteriza essa espécie de sistema de governo é
que há dois “chefes”, o Chefe de Estado, figura política, representativa, quase
decorativa e o Chefe de Governo, verdadeiro líder do executivo, normalmente
denominado primeiro-ministro e indicado pelo Chefe de Estado, este sim eleito
legitimamente.
Em nossas
paragens, o “prefeito” Franco se mostra mesmo como uma verdadeira “rainha da
Inglaterra”, termo usado às vezes de forma pejorativa e que caracteriza um
governante que tem apenas função representativa, que na prática não “apita
nada”. Foi reeleito em votação bastante apertada, mas tem seu carisma,
sobretudo entre a população carente e funciona bem em viagens para a aquisição
de recursos já que é correligionário da presidenta e simpático ao governador e
a alguns deputados. Mas para por aí.
As fontes da
coluna na administração municipal informam em uníssono que quem manda
realmente, que quem é “chefe de governo” em nosso município não é o prefeito e
sim sua principal assessora, ora denunciada nessa enorme irregularidade. O que
se diz é que nada se faz ou se mexe na administração municipal sem o seu aval
ou sua simpatia. E ai de quem desafiá-la ou simplesmente desagradá-la. Basta
ver a enorme rotatividade em cargos do primeiro escalão da administração.
Ex-secretários e ex-procuradores afirmaram ter deixado o governo da cidade por
problemas com a citada servidora. Preferia que estivessem enganados, mas pelo
visto não estão. Seria muito digno do prefeito que afastasse sumariamente a
“turma”. Preservaria a sua imagem e mostraria pulso e poder de decisão. Mas
duvido muito.
O resultado
disso tudo está aí, saltando aos olhos. Nossa cidade, além do caos interno na
administração, enfrenta um momento extremamente desagradável. Basta ver o estado
de nossas ruas e avenidas, os problemas de abastecimento e saneamento e a má
condição de bairros mais carentes. Se, além de maus administradores, se provar
que são ímprobos, devem ser extirpados imediatamente, sob pena do poço se
tornar cada vez mais sem fundo e o futuro de nossa cidade cada vez mais
sombrio.
HOMO SAPIENS
“Aquele que se
conduz por outro compasso que não o senso de dever pode ser popular, mas não é
honesto, e, portanto, não é um servidor público útil.” John Wilson Crocker,
político irlandês.
“O poder tende
a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente.” John Dalberg-Acton,
historiador inglês.
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