segunda-feira, 4 de junho de 2012

DE PERTO, QUEM É NORMAL?

                Ficou muito famosa a frase de Caetano Veloso em que ele afirma que “de perto ninguém é normal”. Freud também disse algo parecido. Talvez mesmo nem de perto nem de longe sejamos normais já que o que se deve perguntar é: o que é ser normal?
                Segundo Jaques Testard, cientista francês “a normalidade não provém de nenhuma definição racional, mas de uma certa relação entre o indivíduo julgado e o grupo que se autoriza a julgar.” Ora, temos portanto que não existe um padrão de normalidade; ao contrário, a própria normalidade é relativa, conforme a análise do observador.
                Em uma sociedade que muda a todo instante, que se reinventa, que se contesta, que evolui (ou involui), fica ainda mais difícil imaginar quem ou que seria normal. Se atribuirá efetivamente a ideais de pensamento, práticas ou grupos, definições pontuais e setoriais que dificilmente trarão um padrão de “normalidade”.
                Conservadores, tradicionalistas e reacionários insistirão em um padrão normal condizente com aquilo que era, mas que provavelmente já não é mais, se fiando na falsa impressão de que as coisas não mudam e que, se mudam, pioram.
                Modernos, pós-modernos, vanguardistas, trilharão pelo caminho da diferença para se chegar à normalidade. Ser diferente reconhecidamente dentro de cada estereótipo pode significar ser normal. Ou não, paradoxalmente.
                Caetano mesmo, com a frase citada acima, verso da bela música ‘Vaca Profana’, quer justificar que também sabe ser careta, já que, segundo ele, “de perto ninguém é normal”. Ser careta para Caetano seria não ser tão normal. Mais uma confirmação do julgamento conforme o julgador.
                Para a jurista Maria Celina Bodin de Moraes não existe uma identidade humana comum e que as diferenças existentes entre os indivíduos são facilmente comprováveis: quem são normais, os cultos ou os iletrados? Os sadios ou os deficientes? Os religiosos ou os laicos? Os revolucionários ou os conservadores? Os destros ou os canhotos? Os solteiros ou os casados? E por aí vai...
                A sociedade atual se pretende pluralista, reconhecedora e acolhedora dos ditos “diferentes” ou do reconhecimento das diferenças. Se é assim, cada vez menos teremos um “padrão” de normalidade, se é que teremos ou que desejamos ter. Talvez o melhor seja chegarmos à conclusão que nem de perto, nem de longe somos normais nem não-normais.

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