Poucas coisas são mais ridículas
em uma discussão sobre política do que alguém lançar mão da frase: “voto em
qualquer um, menos no PT” e, quando confrontado sobre o motivo da afirmação,
não sabe dizer o porquê. Ou pior, vomita o que de mais abjeto pode servir de
“argumento” em um debate que se pretenda minimamente razoável: “porque não”. O
ápice da truculência argumentativa e da ignorância racional. E isso, para quem
está acostumado a conversar sobre política, é absolutamente corriqueiro, infelizmente.
Cumpre, de imediato, o alerta de que o signatário não possui qualquer vínculo
com o PT.
Revela,
evidentemente, o total desconhecimento do sujeito sobre inúmeros (ou talvez todos)
aspectos que envolvem a questão. Não sabe, por exemplo, que essa retórica já
está de há muito obsoleta e que era propagada por uma elite privilegiada entre
o fim da década de 1980 e meados da década de 1990, quando ela se sentia
“ameaçada” por um partido à época com bandeiras sociais contundentes que
“ameaçavam” seu reinado secular. Talvez o atual propagador do lema, por querer
fazer parte dela, supõe ser essa ainda a postura exigível. Ledo e atrasado
engano.
Não
sabe, com efeito, que grande parte desta mesma elite, a que ele gostaria de
pertencer, comemora hoje os governos petistas, sobretudo os banqueiros, ícones
do andar de cima do estamento social. Ignora, ademais, que o PT já se afastou,
aparentemente em definitivo, daquelas políticas ideais e sociais que serviram
de base e de impulso ao partido, traídas pelo pragmatismo do poder e,
sobretudo, da sua manutenção. Um dos péssimos nomes que isso carrega é
governabilidade, neologismo que justifica o fisiologismo, o clientelismo, e
outras práticas deletérias à sociedade.
Desconhece
também o pobre incauto que um partido não governa sozinho e que há inúmeros
mecanismos de contenção política e jurídica para abusos e desmando. E que não
há qualquer chance do país ser transformado em Cuba, Venezuela, ou em nenhum
outro, nem mesmo em alguma Alemanha ou Suécia se seus preferidos estiverem
governando. Esse maniqueísmo canhestro, tentado a definir e separar por
partidos quem é bom e quem é mal para a política do país é ridículo.
Vale
citar um famoso constitucionalista, Ferdinand Lassalle, para informar aos
desavisados que em nosso país, inalteravelmente consolidado como um estado
democrático de direito, vigora não só uma constituição da república, mas a seu
lado atuam também os fatores reais de poder, impedindo qualquer arroubo ou
delírio totalitarista.
Nada
melhor do que leitura e a observação para que se acumule cabedal argumentativo.
Não basta em uma discussão a coragem do enfrentamento pela truculência barata
nem uma retórica vazia inspirada em alguém ou em algo que não se sabe nem mesmo
o significado ou a postura. Repise-se, por oportuno, o aviso de que o
signatário não possui qualquer vínculo com o PT. Outrossim, defende com
veemência muitas daquelas ideias das quais o partido se afastou, objeto de
comentário acima. O que não nos conforma são a discussão e o debate baratos, estapafúrdios
e vazios. E não a defesa desse ou daquele partido político.
Nesse
ano teremos eleições no país e não há melhor momento para uma devida reflexão
política. Não se deixe levar por argumentos rasteiros e carentes de
fundamentação. Pense, leia, pergunte, procure saber, antes de entrar em debates
e discussões ou, sobretudo, de tomar decisões eleitorais.