Em seus primórdios, o que hoje se conhece como MMA – Mixed Martial Arts (Artes marciais mistas) ou UFC – Ultimate Fight Championship – era chamado simplesmente de “Vale-tudo”, já que era uma mistura de técnicas e estilos de lutas em que as regras eram mínimas e a diversidade evidente. Valia quase tudo mesmo. Hoje o esporte está altamente profissionalizado e faz sucesso em grande parte do mundo.
Ironicamente, saiu na internet a notícia de que uma igreja evangélica de São Paulo irá realizar seu próprio campeonato de MMA. O objetivo, segundo o site, é o de arrebanhar mais fiéis. O líder religioso declarou que “é melhor perder um pouco de sangue em uma luta dessas do que a vida nas drogas ou na criminalidade”. Parece que agora estamos diante do Vale-tudo da guerra por fiéis que vem marcando a relação entre igrejas.
É indiscutível que o MMA está na moda e em franca expansão no país, mas daí a misturá-lo com religião parece um pouco demais. A sanha em se arregimentar fiéis parece mesmo ser insaciável e a disputa parece ser um tanto “criativa”. Não é fácil conceber que, para engrossar as fileiras daqueles que frequentam algum recinto para professar sua fé, se valha de uma luta que por vezes é sangrenta e, sem dúvida, altamente violenta. Soa como banalização da fé e confunde os verdadeiros objetivos de uma religião. Mas isso já vem acontecendo há muito tempo. E não só entre as evangélicas. A católica, que perdeu uma enormidade de fiéis segundo o último censo, também se vale de alguns expedientes heterodoxos, sobretudo utilizando padres pop stars e afagos da Rede Globo.
O professor Ismael Cury, diretor da Unesc, fez dia desses uma observação bastante pertinente e que confirma essa banalização. Segundo ele, consta da bíblia que Jesus fez, durante sua existência na terra, trinta e um milagres. Hoje, basta ligar a televisão em algum desses infindáveis programas religiosos para ver um sujeito realizar esses mesmo trinta e um milagres em um só dia. Estão banalizando até o milagre. E o pior é que tem gente que acredita. E muita.
Mário Quintana, em um arroubo ateu, versou que “milagre não é dar vida ao corpo extinto, ou luz ao cego, ou eloquencia ao mudo... Nem mudar água pura em vinho tinto... Milagre é acreditarem nisso tudo!” Talvez não se chegue a tanto, mas é difícil discordar de que as coisas estão banalizadas, que objetivos estão distorcidos e que as pessoas estão muito crédulas.
A mistura entre fé, poder, dinheiro, marketing etc aliada a charlatães, ludíbrios e escândalos, não parece auspiciosa. E a “concorrência” nesta área está cada vez maior. Tanto é que, bastou uma luta estar na moda para entrar no “show” promovido por algumas religiões. Da mesma forma que oferecem lutas, oferecem milagres, curas, sucesso e outros dotes absolutamente difíceis de se atingir com um simples toque ou desígnio de um sacerdote. Qual será a próxima “jogada de marketing”? Está valendo tudo mesmo.