sexta-feira, 23 de maio de 2014

"VOTO EM QUALQUER UM, MENOS NO PT. SÓ NÃO SEI DIZER O PORQUÊ..."



                    Poucas coisas são mais ridículas em uma discussão sobre política do que alguém lançar mão da frase: “voto em qualquer um, menos no PT” e, quando confrontado sobre o motivo da afirmação, não sabe dizer o porquê. Ou pior, vomita o que de mais abjeto pode servir de “argumento” em um debate que se pretenda minimamente razoável: “porque não”. O ápice da truculência argumentativa e da ignorância racional. E isso, para quem está acostumado a conversar sobre política, é absolutamente corriqueiro, infelizmente. Cumpre, de imediato, o alerta de que o signatário não possui qualquer vínculo com o PT.
                Revela, evidentemente, o total desconhecimento do sujeito sobre inúmeros (ou talvez todos) aspectos que envolvem a questão. Não sabe, por exemplo, que essa retórica já está de há muito obsoleta e que era propagada por uma elite privilegiada entre o fim da década de 1980 e meados da década de 1990, quando ela se sentia “ameaçada” por um partido à época com bandeiras sociais contundentes que “ameaçavam” seu reinado secular. Talvez o atual propagador do lema, por querer fazer parte dela, supõe ser essa ainda a postura exigível. Ledo e atrasado engano.
                Não sabe, com efeito, que grande parte desta mesma elite, a que ele gostaria de pertencer, comemora hoje os governos petistas, sobretudo os banqueiros, ícones do andar de cima do estamento social. Ignora, ademais, que o PT já se afastou, aparentemente em definitivo, daquelas políticas ideais e sociais que serviram de base e de impulso ao partido, traídas pelo pragmatismo do poder e, sobretudo, da sua manutenção. Um dos péssimos nomes que isso carrega é governabilidade, neologismo que justifica o fisiologismo, o clientelismo, e outras práticas deletérias à sociedade.
                Desconhece também o pobre incauto que um partido não governa sozinho e que há inúmeros mecanismos de contenção política e jurídica para abusos e desmando. E que não há qualquer chance do país ser transformado em Cuba, Venezuela, ou em nenhum outro, nem mesmo em alguma Alemanha ou Suécia se seus preferidos estiverem governando. Esse maniqueísmo canhestro, tentado a definir e separar por partidos quem é bom e quem é mal para a política do país é ridículo.
                Vale citar um famoso constitucionalista, Ferdinand Lassalle, para informar aos desavisados que em nosso país, inalteravelmente consolidado como um estado democrático de direito, vigora não só uma constituição da república, mas a seu lado atuam também os fatores reais de poder, impedindo qualquer arroubo ou delírio totalitarista.
                Nada melhor do que leitura e a observação para que se acumule cabedal argumentativo. Não basta em uma discussão a coragem do enfrentamento pela truculência barata nem uma retórica vazia inspirada em alguém ou em algo que não se sabe nem mesmo o significado ou a postura. Repise-se, por oportuno, o aviso de que o signatário não possui qualquer vínculo com o PT. Outrossim, defende com veemência muitas daquelas ideias das quais o partido se afastou, objeto de comentário acima. O que não nos conforma são a discussão e o debate baratos, estapafúrdios e vazios. E não a defesa desse ou daquele partido político.
                Nesse ano teremos eleições no país e não há melhor momento para uma devida reflexão política. Não se deixe levar por argumentos rasteiros e carentes de fundamentação. Pense, leia, pergunte, procure saber, antes de entrar em debates e discussões ou, sobretudo, de tomar decisões eleitorais.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

RETRATO DO VAGABUNDO

É errônea a ideia que se tem de que o vagabundo é todo sujeito que não trabalha. Há algumas hipóteses em que se é possível, digamos, evitar trabalhar. Se o sujeito herdou uma fortuna, por exemplo, e optou pelo ócio, não há o que condenar. Se ganhou vultoso prêmio de loteria e abandonou preocupações laborais, também deve ser eximido da ingrata pecha. Se já amealhou numerário polpudo com o trabalho e se cansou, também pode se “aposentar” antes da hora. Mas, se deve parar por aí.
                Vagabundo é, na verdade, aquele que deveria trabalhar e, por opção ou “vocação”, não trabalha. Precisa, pelo próprio sustento ou da família ou eventualmente da prole, mas se recusa, voluntariamente. Não procura, não produz, não desenvolve. É um pária. E também um parasita, já que vai ter de achar alguém para bancá-lo. E normalmente são exigentes quanto a um bom padrão de vida e a hobbies sofisticados. Normalmente é um perdedor nato que tenta reverter essa situação à custa dos outros.
                O vagabundo, pela exclusão e pela desídia, não consegue ter dinheiro justo, honesto ou merecido. Se aparece com algum, ou tomou ou enganou alguém. E há alguns desses sujeitos que conseguem se fazer passar por vítimas ou por “injustiçados” durantes anos. Outros, mais repugnantes ainda, aplicam golpes até em filhos. O vagabundo, muitas vezes, é covarde.
                Tal laia presta não só um desserviço social, como também uma péssima influência aos filhos e aos pares. A opção razoável e não condenável por não trabalhar, como dito acima, é muito remota e trabalhar significa também dar exemplo, mostrar que as coisas não vêm tão fáceis e que viver à custa de outrem é algo indesejável. O contrassenso está no fato de que, para muitos vagabundos, as coisas vêm fáceis mesmo. Mas chega uma hora em que acaba a farra. E aí muitos se perdem.
                Quando esse dia chega, muitos se colocam, conforme já falado, como vítimas, como injustiçados, mas, doentes que são, fingem pra plateia, muitas vezes incauta (como filhos pequenos, por exemplo), que nada aconteceu e se esforçam (algo difícil para eles, anoto) em tentar mostrar que tudo continua como sempre foi e que não dependem de ninguém. Nem do trabalho... É uma megalomania doentia mesmo, patológica. A farsa deve ser sustentada, não se admitindo ao público a vulnerabilidade e a necessidade. A falta de escrúpulos é característica marcante.
Mas tal encenação não costuma durar muito, felizmente. É certo que ninguém gosta de sustentar vagabundo. Pelo menos, se fazem, é só por um tempo. Às vezes até por alguma misericórdia, o que deflagra uma das piores faces da questão, pois coloca o vagabundo na posição mais ingrata possível: ser digno de pena.
 O vagabundo acaba isolado, afastado da sociedade, resultado da patologia que ele mesmo lhe impingiu. Seu futuro é incerto. A cadeia é um dos que melhor se afiguram, já que são golpistas por natureza e inescrupulosos por vocação. Muitas vezes, coisas que deveriam ser aprendidas em casa acabam por ser ensinadas efetivamente na rua, o que redunda em algo bem mais doloroso, tanto no sentido literal quanto no figurado.

A conclusão é óbvia: Vagabundos são nocivos, deletérios à sociedade. E vale o conselho: Nunca sustente ou se deixe enganar por um vagabundo!