segunda-feira, 26 de agosto de 2013

NOVO?!

             Heraldo completou cinquenta e cinco anos se sentindo muito bem, com todo o pique e uma disposição que considerava invejável. Divorciado há quinze anos e aposentado há dois, com uma situação financeira estável graças às economias durante a vida e à aposentadoria de fiscal, decidiu por em prática alguns dos planos que cultivava em segredo, como se casar novamente, praticar corrida e cursar filosofia.
               Antes porém, preferiu consultar os filhos e amigos, já que sempre gostou de expor o que pretendia fazer e de ouvir a impressão das pessoas próximas e queridas sobre aquilo que desejava realizar.
                Abordou a filha e disse que estava propenso a pedir a mão da sua namorada em casamento. - Ora, papai! Que ideia mais absurda. Você já não tem mais idade para essas coisas não. Que besteira. Heraldo engoliu seco o discurso da filha e decidiu pensar melhor no assunto.
                Encontrou o filho chegando da faculdade. O garoto cursava publicidade e estava no último ano. Perguntou de repente: - Você já pensou em fazer outro curso depois que terminar esse? – Claro que não né, pai. Já tô me matando só com esse. E outra, quero seguir carreira. Mas por quê a pergunta? – É por que eu estava pensando em fazer vestibular pra filosofia... – O que, pai??? Que bobagem. Você já tá coroa, vai pagar de garotinho na facul agora? Sai dessa. O pai baixou os olhos e ficou de refletir sobre a ideia.
                Chegou no boteco onde todas as quartas-feiras tomava um sagrado chope com seus dois grandes amigos, o Bira e o Esteves. - Pessoal, tomei uma decisão: vou virar maratonista. Os ouvintes caíram imediatamente na risada. – Ô Heraldo, você não corre nem pro banheiro quando tá apertado, disparou o Esteves. E outra, completou o Bira, isso é coisa de moleque, você já passou da idade há muito tempo. Heraldo se calou, desolado.
            Foi embora do bar pensativo. Será que era isso mesmo? Estava velho, acabado pra tudo que sempre planejou? Enquanto divagava, não percebeu que já estava no meio da rua e também nem viu quando o carro que vinha em alta velocidade na sua direção o pegou em cheio. Já chegou sem vida ao hospital.
               No velório lotado, todos consternados com o ocorrido. Que brutalidade, diziam. Até que chegou uma antiga colega e perguntou a um dos filhos do morto: - Quantos anos ele tinha? – Cinquenta e cinco. – Nossa... muito novo né???

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A LAMENTÁVEL CONDUTA DE JOAQUIM

           Ninguém contesta a incrível escalada de vida do ministro Joaquim Barbosa. Nascido em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, começou a vida como faxineiro, estudou Direito na Universidade de Brasília, ingressou no Ministério Público, onde fez carreira, até chegar a ministro da mais alta corte do país, o Supremo Tribunal Federal, primeiro negro a ocupar o posto, do qual é presidente atualmente. Admirável, realmente, mas o júbilo se encerra por aqui.
                O que não se pode admirar, nem no mínimo se apoiar, é a conduta do senhor Joaquim Barbosa desde o julgamento do chamado ‘mensalão’, quando figurou como relator do processo, agravada após se tornar presidente da casa. Joaquim é arrogante, autoritário e desrespeitoso com colegas de toga, advogados e até com a mídia que chegou a alçá-lo como pretenso presidenciável.
                Ontem o ministro protagonizou mais uma sessão de grave desrespeito a um colega, durante o julgamento dos recursos dos réus do ‘mensalão,’ apreciados na ocasião pelo STF. Quase aos berros, acusou o ministro Ricardo Lewandowsky de patrocinar expediente jurídico malicioso e indesejável, conhecido no meio como ‘chicana’, mesmo estando seu posicionamento calcado em argumentos e fundamentos.
                O plácido e fleumático Lewandowsky pediu, compreensivelmente ofendido, que o presidente da casa se retratasse da ofensa, que, no entanto, em vez de acatar, aumentou o tom e vociferou em direção ao colega aduzindo que aquele estava mudando de opinião, buscando beneficiar réus. Ao cabo, visivelmente transtornado e sem argumentos, encerrou autoritariamente a sessão.
                Lamente-se, por necessário, a conduta da mídia que chegou (vide o comentário dos duvidosos Merval Pereira e Renata Lo Prete da Globo(news)), “justificando” o arroubo do senhor Barbosa por ter, tal como um super herói com poderes incríveis, enxergado na conduta do colega, uma manobra para beneficiar “peixes maiores” também réus do julgamento. A fantasia sempre convém para esconder a realidade.
                Joaquim Barbosa parece nutrir um ódio atávico por políticos – ou por alguns deles – talvez por culpá-los pelas dificuldades que enfrentou na vida. Até aí pode-se até conceber. O que não se pode admitir é que ele se valha da atual toga para, como ministro do STF, tentar vingar seus pares.

              Insuflado pela imprensa por sua conduta “destemida” durante o julgamento do ‘mensalão’, Joaquim está passando dos limites, tanto como julgador, imparcial por natureza e exigência legal, quanto como chefe de um dos poderes da república. Sua evidente atração pelos holofotes não se mostra salutar, sobretudo pela pouca diplomacia, pra não dizer a pouca educação, com que muitas vezes se manifesta. Talvez fosse melhor Joaquim só falar por meio dos autos do processo e esquecer a idéia de salvador da pátria.