quarta-feira, 24 de abril de 2013

LEI DA PORRADA?

               Tramita no congresso, já aprovado em comissões, e com tendência a aprovação pelas casas, o projeto de lei n. 7672/2010 de iniciativa da presidência da república que prevê a proibição da imposição de castigos físicos dos pais sobre os filhos. Ganhou o inadequado apelido de ‘Lei da Palmada’. Não se trata de uma regulamentação da famosa palmada e sim da tipificação de sua ilicitude.
                A matéria gera polêmica devido à truculência de muitos que acreditam que é assim que deve-se educar os filhos, na base do chinelo. É de se lamentar. Argumentam os defensores da “palmada”, entre outras idiotices, que, como apanharam e se tornaram bons cidadãos (em seu próprio juízo, ressalte-se), também batem em seus filhos para se tornarem à sua semelhança. E o ciclo pretende continuar...
                Causa-me espécie, já que talvez não seja, aos olhos daqueles, um bom cidadão, pois nunca apanhei dos meus pais. Garanto que na minha casa nunca se precisou chegar à violência para que se formassem cidadãos de bem. Não é a porrada que molda o caráter. Meus pais acertaram antes e não precisaram consertar seus erros nos batendo. Ademais, sugiro que se pergunte nos presídios brasileiros, onde supostamente estão os piores criminosos, se apanharam de seus pais. Suspeito piamente que sim, embora o resultado dessa “pedagogia” salte aos olhos.
                Nesta toada, se não há também legislação qualquer que autorize que se bata em criminosos, seja qual for o crime que cometeram, como pode a lei autorizar ou tolerar que se bata em crianças? Duvido que o que tenham feito chegue perto do que fizeram os que estão presos. E ainda, se um adulto bate em outro é crime. Como admitir a licitude de uma conduta em que um adulto bate em uma criança?
                Em tom de ironia, diante da insurreição de certas mães que defendem com veemência a prática “corretiva”, pergunto se elas concordariam em levar uns tapas de seus maridos caso fizessem algo errado. A indignação é geral, como se pode imaginar. Vários pesos e várias medidas. Isso aliás, também depõe contra a violência dos pais. A sanção, muitas das vezes, é desproporcional, resultado mais do estado emocional do agressor, funcionando como um escape de sua situação. A criança acaba pagando mais pelo desequilíbrio dos pais do que propriamente pelo que fizeram.
                Os truculentos reclamam da sociedade violenta em que vivemos, esquecendo-se que essa “solução” para os problemas normalmente surge em casa. Usar da violência para justificar a “educação” só serve para criar cidadãos ainda mais violentos. Mas a cegueira de quem bate, às vezes sem dó ou critério em seus filhos, impede que se aceite a lógica.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

PERIGOSOS DELÍRIOS

                Não vou nem entrar no mérito dos preconceitos do tal Pastor Feliciano. São lamentáveis, mas, na minha visão, dificilmente encontraremos alguém despido de qualquer preconceito. Eu, por exemplo, não tenho preconceito contra homossexuais, índios ou estrangeiros, mas se me aparece uma pessoa chata ou ignorante pela frente... O que realmente me assusta e preocupa são algumas de suas “declarações” perante seus fiéis.
                Tenho (e assumo) preconceito (e ojeriza) contra quem delira e agride a inteligência alheia. E isso o tal Pastor tem feito e, pelo visto, sempre fez. Vi chocado um vídeo em que ele anuncia que John Lennon foi morto por ter “desafiado Deus”. Segundo ele, ao dizer que “os Beatles eram mais famosos que Jesus Cristo” - frase aliás, historicamente interpretada fora de contexto - teria assinado sua sentença de morte, muito embora entre a fala e o falecimento tenham se passado quinze anos. Desafiar o bom senso e a inteligência, como faz Feliciano deveriam levar a “penas” piores, certamente.
                Disse em outra oportunidade o deputado (!) que artistas como Caetano Veloso e Lady Gaga também alcançaram o sucesso devido às graças de satanás. Será que ninguém explicou a esse senhor que “vender a alma ao diabo” é uma metáfora? Será que ele acredita mesmo que alguém agendou uma Audiência com Lúcifer e celebrou tal pacto? E o pior, tal disparate foi dito na presença de centenas de pessoas, “controladas” pelo senhor Feliciano e que, na condição de “fiéis” se vêem coagidas a acreditar nesses delírios.
                O citado também já foi flagrado exigindo contribuições de seus seguidores com a mesma veemência com que descarrega seus disparates. Reclamou, inclusive, que alguém tinha doado o cartão de crédito (documento de uso intransferível), mas que não tinha informado a senha... Valho-me do que disse o site Kibeloco: John Lennon disse que o sonho acabou e Feliciano disse que a senha acabou...
                Ironias à parte, preocupo-me com o que é dito nesses templos religiosos (de qualquer religião, ressalto) em que incautos absortos pela eloqüência e virulência de pastores, passam a crer que tais despautérios seriam mesmo verdade. O que será que já foi dito e que não foi registrado por câmeras ou gravadores? É certo que a bíblia abre margem a interpretações. Mas interpretações e não delírios absurdos. Tais vídeos só apareceram depois da repentina “fama” do deputado. Caso contrário, provavelmente nunca saberíamos dos “belos sermões” proferidos.