sexta-feira, 26 de outubro de 2012

VIRGINDADE LEILOADA

                Terminou na última quarta-feira, 24 de outubro, o leilão virtual promovido pela brasileira Ingrid Migliorini, conhecida na internet como Catarina. Seria só mais um leilão se o objeto não causasse ainda um impacto em parte da sociedade. Ingrid leiloou sua virgindade, que foi arrematada por um japonês pelo inacreditável valor de R$ 1,5 milhão de reais.
                A brasileira, que mora na Austrália e afirmou que com o dinheiro arrecadado construirá casas populares, cercou-se de cuidados para evitar problemas com a lei australiana, rigorosa no que diz respeito à prostituição. Isso mesmo, Ingrid está comercializando o próprio corpo, traduzindo-se na sua primeira relação sexual mediante um preço pago pelo arrematante, independentemente do objetivo altruístico por ela divulgado.
                Se fosse no Brasil, tais cuidados não seriam necessários, por alguns motivos. Primeiro, pelo fato de a virgindade não representar um valor jurídico, consequentemente, sendo irrelevante para o direito o fato de ela ser ou não virgem, já que isso não pode ser considerado um bem comerciável. Necessário, no entanto, é que ela seja maior de idade e capaz, requisitos que preenche. A virgindade da ofertante só poderá, eventualmente, servir como acréscimo no montante pago, já que configura, ainda, um fetiche para muitos.
                Em segundo lugar, no Brasil já se encontra regulamentada a profissão ‘garoto ou garota de programa’, sob o nº 5198 da classificação brasileira de ocupações do ministério do trabalho. São aqueles que “buscam programas sexuais; atendem e acompanham clientes; participam de ações educativas no campo de sexualidade.” Quem comercializa o corpo atua protegido pela lei, mantendo-se, entretanto, a proibição de exploração do serviço sexual de outrem. Com isso, seja na forma de oferta convencional ou de leilão como no caso em tela, cuida-se da mesma natureza, ou seja, comercialização do próprio corpo.
                Vencida a questão jurídica, algumas perguntas ainda pairam: vale a pena pagar tanto por uma transa? E ainda por cima com pessoa tão inexperiente? O tabu da virgindade já parecia superado, mas pelo que se vê, ainda vale bastante, pelo menos financeiramente. O vencedor poderia contratar por esse valor cinco mil prostitutas experientes a R$300,00 cada uma. Será que não seria mais vantajoso? Lembre-se que, segundo o contrato do leilão, não pode haver beijo na boca nem realização de qualquer fantasia. Resta claro que é mais uma exibição de poder econômico do que a própria satisfação sexual.
                E mais, parece-me que nem mesmo as mulheres valorizam tanto suas virgindades já que atualmente será que ainda encontraremos muitas que se casam imaculadas? Não há mais necessidade disso. Ademais, ainda associar-se a virgindade à idéia de pureza, vai de encontro à liberdade sexual dos dias de hoje, que não admite que o sexo seja considerado algo impuro, ao contrário, sexo é saudável.
                Ingrid chocou os mais conservadores, mas tanto o tabu da virgindade, quanto a ilegalidade e a marginalização da prostituição, já parecem superados ou estão em vias de. O que mais estranha nisso tudo é que alguém seja capaz de pagar um valor tão alto por uma simples relação sexual e com uma virgem, ainda por cima.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O LEGADO DA HEBE

                Velórios e enterros televisivos sempre causam comoção. A morte de uma personalidade (da mídia, de preferência) é explorada às escâncaras e ao esgotamento e tenta-se incutir no telespectador um sentimento de pesar que na maioria das vezes ele não sente. Quem vai é melhor do que quem fica. Costumo dizer que quem morre leva junto os defeitos. Pelo menos durante o curto período de luto.
                A comoção nacional e a exploração midiática da vez foram em torno da morte da apresentadora Hebe Camargo, famosa mais por sua longevidade jurássica na televisão do que propriamente por bons trabalhos realizados. Hebe foi cantora, atriz (alguém se lembra?), apresentadora e deve ter sido mais coisas. Mas a pergunta que faço é: O que a Hebe deixa de legado para o Brasil?
                Não tenho idade para ter acompanhado a carreira de Hebe antes de se tornar uma apresentadora, bem mediana, aliás. Mas, principalmente, na época em que freqüentava a casa da minha avó e não tinha qualquer poder sobre o controle remoto, pude observar que ali estava uma figura divertida. Ponto. Mais do que isso, o que sempre me chamou a atenção foram a futilidade e a postura reacionária, típica de apresentadores de massa. Ah, e os constrangedores ‘selinhos’ em seus convidados, marca da sua já avançada senilidade.
                Nunca vi em Hebe alguém com inteligência, ou com posições relevantes e ponderadas acerca dos problemas nacionais. Nunca vi em Hebe um ídolo, lógico, mas não chego nem a achar que mereceu o destaque que teve no fim da vida e, sobretudo, após sua morte. Estava no ostracismo, relegada à insignificante audiência da insignificante RedeTV!. Aliás, entre Hebe, Faustão e Datena vejo poucas diferenças e muitas semelhanças. Seu velório, no entanto, e, mais ainda, sua cobertura pela mídia, foram com honras dignas de vultos históricos.
                Personalidades significativas quando se vão deixam um legado para o país. Marcam sua existência, tem um significado na história nacional. Esse ano, por exemplo, perdemos Chico Anysio, um gênio indiscutível que se imortalizou na mente de todos os brasileiros. E a Hebe? O que ela nos deixa? Gargalhadas e beijos? Roupas e sapatos para doação? Não. Sinceramente: Nada. Precisamos é aprender a cultuar personalidades melhores.